A vivência dos Sacramentos no
cotidiano
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Texto base para encontro de formação.
Cursilho 2024.
OBJETIVO
GERAL: Compreender a recente teologia sacramentária da Igreja, a fim de
interiorizar para a vida pessoal a relação cotidiana com os sacramentos. |
PARTE
I: Introdução aos sacramentos
A palavra SACRAMENTO possui duas origens em seu
termo latino:
a.
Na linguagem
jurídica, que deriva da soma de dinheiro que duas partes do processo
depositavam de modo que, o que perdia a causa, passava ao erário (Estado).
b.
Na linguagem
militar, tratava do juramento prestado pelos recrutas ao ingressar no serviço.
Era “um ato de consagração e de iniciação”. No
século III ainda não estava claro o conceito de sacramento, de modo que,
trata-se apenas do batismo e da eucaristia. Esta relação de sacramento com o
batismo e a eucaristia foi cunhado por Tertuliano. No entanto, a reflexão
sacramentária, propriamente dita, desenvolveu-se na Idade Média, com Hugo de
São Vitor e Santo Tomás de Aquino.
Desse modo, podemos definir o sacramento como o
sinal de uma realidade sagrada, isto é, um sinal visível de um Deus invisível,
e, portanto, “se destinam a santificação dos homens”, como garante o próprio
Catecismo da Igreja Católica (n. 1123). A Teologia hoje fala de uma estrutura
orgânica e unitária da sacramentalidade:
a.
Há, primeiro, um
sacramento fundamental e originário: Jesus Cristo;
b.
Depois, um
sacramento universal: a Igreja;
c.
Por fim, os
sinais sacramentais: 7 sacramentos.
Conforme o Catecismo, n. 1681: “O dia da morte inaugura para o cristão, ao final de sua vida
sacramental, a consumação de seu novo nascimento iniciado no Batismo”. Isso
significa que, os sacramentos tanto são necessários para a Salvação, tanto que
só podem ser ministrados enquanto há vida na pessoa humana.
Como já é esperado, Jesus Cristo foi o autor da
graça sacramental porque ele é o sacramento fontal da salvação. No entanto,
falar da instituição dos sacramentos por Jesus Cristo, não é falar da mesma
forma sobre todos os sacramentos, pois, vemos sinais bíblicos sobre alguns, ao
passo que outros, Jesus sequer toca nos assunto nos relatos bíblicos. Acontece
que, a instituição dos sete sacramentos, tais como conhecemos hoje, está
aplicada à Igreja, enquanto sacramento primordial de Cristo. Isso significa
dizer que Cristo instituiu, mas não “inventou” tudo. A instituição dos sacramentos é fruto de uma
série de atos, gestos e palavras de Jesus Cristo mas que levam em consideração
a tradição apostólica, já que a bíblia não diz tudo. Foi o Concílio de Trento
(1545) que definiu os sete sacramentos como dogmas de fé. A saber: batismo,
crisma, eucaristia, penitência, extrema unção, ordem e matrimônio.
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“Quem me tocou?” Mc 5, 25-34
A partir da pergunta de Jesus, podemos perguntar:
Quem toca em quem? O que tocamos? Em quem a mulher tocou quando tocou em Jesus?
Isso é sacramento! É toque. É ação. Desse modo, Cristo, enquanto sacramento
primordial AGE NA E ATRAVÉS DA Igreja, que é o sacramento geral; que por sua
vez, AGE NA E ATRAVÉS DA Liturgia, que são os sacramentos sistematizados que
conhecemos. O sacramento é, de fato, momento histórico da Salvação.
A teologia católica já afirmou sobre os sacramentos
que, “ex opere operato”: que pode ser
entendido como “a virtude do ato realizado”, isto é, trata-se de uma eficácia
objetiva. Significa dizer que, quando um rito é realizado dentro das condições
requeridas pela Igreja, na intenção da Igreja, sendo que os receptores não
coloquem obstáculo, a graça sacramental acontece. Desse modo, independe da
santidade do ministro; mas também não é mágica, pois, necessita da intenção da
Igreja, e que quem recebe não coloque obstáculo.
Enfim, todo sacramento, validamente conferido,
produz fruto (CIC, 1128-1134):
·
Fruto pessoal
(subjetivo): para cada cristão produz “uma vida para Deus em Jesus Cristo”.
·
Fruto eclesial
(objetivo): para a Igreja a fim de um “crescimento na caridade e em sua missão
de testemunho”.
PARTE
II: Matéria, forma e efeitos dos 7 sacramentos
Conforme o Catecismo da Igreja Católica, bem como o
Código de Direito Canônico, para a validade dos sacramentos a Igreja Católica
diz que é preciso existir a matéria, a forma, o ministro e a intenção da
Igreja; desse modo, pode-se causar o seu efeito eclesial e crístico. A seguir,
apresentamos os principais aspectos de cada sacramento:
BATISMO: Nascimento para uma vida nova em Cristo.
Segundo a vontade do Senhor, ele é necessário para a salvação, como a própria
Igreja, na qual o Batismo introduz (CCE, 1277).
·
Matéria: água.
·
Forma: “Eu te
batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
·
Efeito: remissão
do pecado original e de todos os pecados pessoais; nascimento para vida nova:
filiação divina; incorporado á Igreja, participante do sacerdócio de Cristo.
CONFIRMAÇÃO: Imprime na alma do cristão um caráter
indelével; aperfeiçoa a graça batismal
·
Matéria: óleo do
crisma.
·
Forma: imposição
da mão e palavras “N., recebe, por este sinal, o selo do Espírito Sano, o dom
de Deus”.
·
Efeito: aumenta
dos dons do Espírito Santo; torna perfeita a vinculação com a Igreja; enraíza a
filiação divina batismal; dá força especial para difundir e defender a fé.
EUCARISTIA: memorial da páscoa de Cristo.
·
Matéria: pão de
trigo e vinho de uva.
·
Forma: “isto é o
meu Corpo entregue por vós”; “este é o cálice do meu Sangue”.
·
Efeito:
reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos; aumenta união com o Senhor;
reforça a unidade da Igreja.
RECONCILIAÇÃO: o perdão dos pecados cometidos após o
Batismo.
·
Matéria:
penitente e pecados.
·
Forma: “ [...]
eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
·
Efeito: repara
ou restaura a união com Cristo quebrada pelo pecado; reconciliação com a
Igreja; paz na consciência; consolação espiritual; acréscimo de forças
espirituais para o combate cristão.
ORDEM: diferente do sacerdócio régio, o sacerdócio
ministerial é concedido pela Igreja por meio deste sacramento para o serviço
dos fieis. Exercem os múnus de ensinar, celebrar e governar.
·
Matéria:
ordenante.
·
Forma: imposição
das mãos, seguida da oração consecratória.
·
Efeito: selo
indelével; graça do Espírito de configurar-se ao Cristo Bom Pastor.
MATRIMÔNIO: efetivação da vontade de duas pessoas se
doarem mutuamente para viver a aliança de amor fiel e fecundo, mediante a
aliança de amor entre Cristo e a sua Igreja.
·
Matéria: os
noivos.
·
Ministro: noivos
– único sacramento que pode ser assistido por leigos, em nome da Igreja.
·
Forma:
consentimento mútuo “Eu, N., te recebo N. por minha/meu esposa/esposo e te
prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e
na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de nossa vida”.
·
Efeito: vínculo
de amor conjugal que conduz para a educação dos filhos; fortifica a unidade
indissolúvel.
UNÇÃO DOS ENFERMOS: confere graça especial ao
cristão que passa por dificuldade da enfermidade grave ou velhice.
·
Matéria: óleo
dos enfermos.
·
Forma: unção da
palma das mãos (leigo) e costas das mãos (ministro ordenado) “Por esta santa
unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a
graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na
Sua misericórdia, alivie os teus sofrimentos”.
·
Efeito: união do
doente com a paixão de Cristo; reconforto, paz e coragem para suportar os
sofrimentos ou a velhice; perdão dos pecados (se o doente não puder
confessar-se); restabelecimento da saúde se for da vontade de Deus; preparação
para a passagem eterna.
PARTE
III: Fazer da vida um sacramento de Deus
Começamos definido os sacramentos como “ação”. Ora,
aqui está a chave de leitura para compreender a vivência dos sacramentos no
cotidiano. É preciso deixá-lo agir em nós a graça crística, na medida em que
nós, nos tornando um com ele, também ajamos de modo crístico no mundo. A forma
mais evidente disso se dá no batismo, como fonte de filiação e missão; e na
eucaristia, como fonte de alimento para o anúncio.
A mesa é o lugar da revelação de Deus em Jesus
Cristo: lugar de intimidade, de compromisso e partilhar o mesmo projeto de
vida. Jesus come com os pecadores, prostitutas e cobradores de impostos. Somos
ingredientes da cozinha de Deus: somos chamados por ele a fazer parte desta
mesa de amor. Cada ingrediente é diferente, separado, lavado, transformado em
um alimento saboroso. Tornamo-nos alimento aos irmãos: quatro ações
eucarísticas (tomar, dar graças, partir e entregar).
PARA REZAR:
Tomai,
Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória também
O
meu entendimento e toda a minha vontade; Tudo o que tenho e possuo Vós me
destes com amor
Todos
os dons que me destes, com gratidão vos devolvo; Disponde deles, Senhor,
segundo a Vossa vontade.
Dai-me
somente o vosso amor, a vossa graça; Isso me basta nada mais quero pedir.
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BIBLIOGRAFIA:
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 2ª. ed. Brasília:
Edições CNBB
CONSTITUIÇÃO Sacrossantum Concilium. In: Documentos
do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.
LEXICON. Dicionário Teológico Enciclopédico. São
Paulo: Edições Loyola, 2003.
PAPA FRANCISCO. Carta apostólica Desiderio
desideravi (Sobre a formação litúrgica do povo de Deus). São Paulo: Paulus,
2022.
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