Introdução à Liturgia

        1. O que é Liturgia

             Numa cidade estava sendo construída uma bela catedral feita de pedras. Os operários iam e vinham no meio da grande construção. Certo dia, chegou àquela cidade uma importante autoridade e foi ver a obra. O ilustre visitante entrevistou três operários que carregavam pedra. Aos três fez a pergunta: “Amigo, o que está fazendo?”

            As respostas foram as seguintes:

            Operário 1: “Estou carregando pedras.”

            Operário 2: “Estou ganhando o meu pão de cada dia.”

            Operário 3: “Estou construindo uma catedral, onde muitas pessoas encontrarão a salvação. E aqui, eu e minha família nos reuniremos para louvar a Deus.”    

Estão vendo? Os três operários faziam o mesmo serviço, e no entanto, com o espírito diferente. A liturgia também é assim: e a mesma para todos, mas a maneira de cada um participar pode ser diferente. Por isso é importante conhece-la e apaixonar-se pela liturgia.

 

1.1  Cristo continua na Igreja, pela liturgia, a obra de nossa redenção

A Liturgia é obra da Santíssima Trindade. O Pai nos enche com suas bênçãos no Filho encarnado, morto e ressuscitado por nós, e ele derrama em nossos corações o Espírito Santo. Celebrar a Liturgia é “presentificar” toda a obra salvífica. Por isso o ápice da nossa fé é o mistério pascal de nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse sentido, na Liturgia encontramos sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é concedida a vida divina. Cristo anuncia na Igreja, por meio de seus ministros, a distribuir a graça. Assim, a Liturgia da Igreja anuncia, atualiza e comunica o mistério da salvação. Por isso, ela é a fonte segura para a oração cristã.


2. Liturgia: um momento da história da salvação

A história da salvação é tudo aquilo que acontece fora de Deus, ou seja, são os atos de Deus e os atos da humanidade. Mas nos surge uma dúvida: A história da salvação terminou com a páscoa de Jesus ou ela continua?

Ela continua com o envio do Espírito Santo. Na morte de Jesus nasceu a Igreja, que, conforme nos diz o documento do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, “no dia de pentecostes apareceu ao mundo” (SC 6). Por isso, concluímos que, na Igreja, sobretudo nos seus sacramentos, a história da salvação continua no sentido de que agora a obra salvífica é levada a efeito naqueles que creem em Cristo, e em toda a humanidade. Assim, a liturgia é momento atual da história da salvação. Cada vez que celebramos, nos transportamos, ou ainda, “presentificamos” o mistério pascal pelo Espírito Santo.

Assim acontece a teologia do intercâmbio, onde Deus desce e santifica a humanidade ao passo que o louvor da humanidade, através dos cultos sagrados, glorifica a Deus. Esta é a beleza da liturgia. Podemos, portanto, definir a liturgia como sendo a ação do povo, em favor do povo, para glorificar Deus e santificar os homens (CIC §1069).

2.1  A liturgia antecipa o futuro e revive o passado

Isso porque nos unimos com os anjos e santos pela liturgia. Unimos a Igreja militante com a triunfante e a padecente. Participamos da liturgia celeste e terrestre (CIC §1090). Por isso, aqui vai uma questão: Quantas eucaristias aconteceram na história, desde que Jesus a instituiu? Apenas uma eucaristia, desde Jesus, porque, nós atualizamos, ou presentificamos aquela mesma ceia eucarística a cada Santa Missa celebrada. Assim sendo, a liturgia não é nossa, mas de Deus, e não podemos modifica-la!


3. Celebração Eucarística

Celebração Eucarística ou Santa Missa: é o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Ela é composta de duas partes essenciais, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, que são inseparáveis!

São duas as dimensões litúrgicas da Missa: glorificação de Deus e santificação do homem. Uma completa a outra, uma é consequência da outra. Enquanto glorificamos a Deus, nós nos santificamos. A liturgia deve sempre nos levar a uma maior aproximação com Deus, o que sempre nos levará a uma atitude de conversão. Sendo a liturgia ação de Deus e de Seu povo, ela não pode nunca ser ação de algumas pessoas ou de um determinado grupo ou movimento. Quem celebra é sempre o povo de Deus, o Corpo de Cristo, uma comunidade reunida por Cristo e em Cristo na unidade do Espírito Santo. Não se trata, aqui, de um povo qualquer, mas de um povo formado por pessoas que, acolhendo o convite de Deus pela escuta da Palavra, reúne-se em assembleia para celebrar.

3.1  Os graus das celebrações

Podemos afirmar então que existem graus e precedência nas celebrações, e se dizemos genericamente "festas", três na verdade são os graus da celebração litúrgica: "solenidade", "festa" e "memória", podendo esta última ser ainda obrigatória ou facultativa.

A "memória" pode tornar-se "festa", quando o Santo festejado for Padroeiro principal de um lugar ou cidade, Titular de uma catedral, como também quando for Titular, Fundador ou Padroeiro principal de uma Ordem ou Congregação. Também a "festa" pode tornar-se "solenidade" nas circunstâncias litúrgicas aqui descritas, estendendo-se esse entendimento às celebrações de aniversário de dedicação ou consagração de igrejas.

3.2  O beijo do altar

Sobre o altar o Corpo e Sangue de Cristo, alimento e bebida eucarísticos, são oferecidos. Portanto, o altar está intimamente ligado ao acontecimento da Cruz, onde Jesus foi imolado. No antigo testamento, os animais sacrificados eram colocados no altar para ser oferecido a Deus. O altar nos mostra que, devemos ser altares vivos, fazendo da nossa vida um sacrifício espiritual e agradável a Deus.

4. Rito Penitencial e seu valor sacramental

O apostolo Paulo aos Coríntios (11, 28) pede que se faça um exame antes de comer o pão e beber o cálice, pois quem come e bebe o Corpo do Senhor indignamente, come e bebe a própria condenação. Por isso é importante que haja o ato penitencial na Celebração da Santa Missa.

No entanto, a reflexão teológica atual reconhece que a missa, enquanto renovação do sacrifício do Calvário, tem o poder de perdoar os pecados, inclusive os graves, como afirma o Concílio de Trento. A Eucaristia, no entanto, não se opões, muito menos invalida o sacramento da reconciliação. Os dois sacramentos, cada qual ao seu modo, celebram o perdão. Portanto, sendo o ato penitencial uma expressão de perdão próprio da eucaristia, não se pode substituir o sacramento da reconciliação.

(Extraído do texto de Dom Manoel João Francisco)


            5. Trabalhar a Liturgia após o Concíclio Vaticano II

O Concílio Vaticano II propôs uma volta às origens, redefinindo a liturgia como cume e fonte e como lugar privilegiado da experiência de salvação realizada pelo mistério pascal de Cristo Senhor, centro e mediador da história salvífica. Uma liturgia celebrada de forma ativa, plena, consciente e frutuosa por todo o povo de Deus, povo sacerdotal (sacerdócio comum e ordenado) que possui costumes, língua e riquezas culturais muito próprias (cf. SC 5-8; 10.14).

A pastoral litúrgica implica ainda cuidados com a preparação, a realização e a avaliação das celebrações, com a formação do povo e dos ministros e também com a organização da vida litúrgica nos vários níveis eclesiais.

A partir daí, precisamos refletir sobre as nossas equipes de liturgia. O papel dessa equipe é trabalhar em conjunto a fim de preparar as celebrações: acolhimento, leituras, preces, comentários, músicas, cânticos e serviços do altar, desde sua ornamentação até a arrumação imediata das alfaias, livros, etc. Levar a assembleia a participar de forma ativa, consciente, plena e frutuosa dos sagrados mistérios. Evitar individualismo pastoral.


                6. Meses temáticos na Liturgia 

            Às vezes tem-se a impressão de que, não sabendo o que fazer com o domingo, particularmente, com os domingos do tempo comum, os padres e equipes de liturgia apelam para celebrações temáticos. Ora, a Igreja não celebra temas, mas sim mistérios! Os meses temáticos estão ligados ao Plano de Pastoral da CNBB. O que não pode acontecer é que esses temas definam e determinem a liturgia desses meses, nem os cantos, comentários, salmos e leituras próprios do domingo.


            7. Canto litúrgico

O canto litúrgico não é apenas para embelezar a missa, mas para nos ajudar a rezar. Quem canta, reza duas vezes (Santo Agostinho). O canto litúrgico não é teatral, não é símbolo de vaidade nem exibição. Instrumentos servem para sustentar e não abafar as vozes. Não se deve elitizar a ponto de poucos saberem cantar, por isso, dar preferência em cantos conhecidos ao passo que tenha paciência para introduzir aos poucos os cantos desconhecidos.

Cada canto deve ter plena harmonia com o momento. Cantar faz bem! Cantar é próprio de quem ama (Santo Agostinho) A equipe de liturgia deve animar a assembleia a cantar. É trabalho conjunto.

MÚSICA PROFANA = música não sacra, não religiosa.

MÚSICA LITÚRGICA = música que a Igreja admite nas Celebrações Litúrgicas, pois, manifesta a fé católica e respeita as regras e orientações da liturgia.

MÚSICA RELIGIOSA = música que expressa sentimento religioso, mas não tem lugar na liturgia, e sim, nos encontros, reuniões, etc.

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