PARTE II - O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
CATEQUESE MATRIMONIAL
(curso de noivos)
Luis Gustavo da Silva
***
1.
Introdução: os sacramentos do serviço
Algumas pessoas, depois de já terem recebido
os Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação, Reconciliação e
Eucaristia), sentem-se chamadas por Deus para um outro tipo de consagração
especial: são os clérigos, através do Sacramento da Ordem e os noivos, através do
Sacramento do Matrimônio. Estes dois são chamados de sacramentos do serviço
porque conferem uma graça especial para uma missão particular na Igreja
em para a edificação do povo de Deus.
2.
O sacramento do matrimônio
"A Sagrada Escritura inicia-se com a criação
do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com a visão das 'núpcias do Cordeiro' (Ap 19, 7). De um extremo a outro, a Escritura fala do
casamento e de seu 'mistério' [...]". (CIC, 1602).
O Matrimônio é o amor. Ora, ninguém consegue
viver sem a presença e o amor de outra pessoa. Ninguém está sozinho e isolado
como uma ilha. No casamento, esse amor é repartido entre o marido e a mulher: é
repartido também entre o casal e os filhos, e até mesmo com a comunidade onde
vivem. O mais difícil do amor é permanecer firme nele, como já mencionamos na
primeira parte deste itinerário.
Somente Deus é capaz de ser, sem defeito,
fiel e amoroso. E, portanto, quando o casal é fiel no amor, é um grande sinal
de Deus. Deus está presente no amor do casal. Somente quem acredita nisso pode
casar na Igreja. Vocês, noivos e noivas, acreditam nisto?
Deus nos fez para a felicidade. O Pai quando
criou o homem, Adão, deu a ele uma companhia: a mulher, Eva; e acrescentou: “Por
isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são
mais que uma só carne” (Gn 2, 24).
Conforme Castanho (2005), após o Concílio
Vaticano II, o casamento toma um significado que vai além de mero contrato
social e passa a ser “comunidade de amor à serviço da vida”, isto é, Igreja
doméstica. É justamente no seio familiar que deve nascer um modo privilegiado
de ser a Igreja de Cristo.
A grande prova da falta de preparo de muitos
casais nos dias de hoje, são os inúmeros casamentos que não dão certo, como
já citamos na primeira parte deste itinerário. Assim sendo, o divórcio é força
do maligno, criado para separar a união feita por Deus entre dois de seus
Filhos. O que Deus uniu o homem não separe (cf. Mt 19, 6).
3.
O testemunho
“Os cristãos, quando
se casam ‘no Senhor’, são transformados em sinal eficaz do amor de Deus. Os
cristãos não se casam somente para si: casam-se no Senhor em favor de toda a
comunidade, de toda a sociedade.”
(Papa Francisco)
Há de se notar algo muito belo no primeiro
capítulo do livro de Gênesis: Deus, à medida que vai criando, vê que tudo é
bom. Ao criar o ser humano, vê que era muito bom (cf. Gn 1, 31). Todavia, há
algo na criação que o Senhor viu que não era bom: “não é bom que o homem esteja
só” (Gn 2, 18). Se nós somos a imagem de Deus, Uno e Trino, parece óbvio que
não fomos criados para a solidão, mas sim para viver em relação com outros, isto
é, em comunhão, em comunidade.
Ademais, é pertinente perceber que, em nossa
sociedade, o que mais ouvimos dos jovens é a frase: “eu não quero me
casar”. Assim sendo, vale ressaltar a profunda crise humana que passamos, a
ponto de tratarmos os outros como coisa, e não mais com a dignidade humana. A
isto, podemos chamar, na sociologia, de “coisificação”, ou ainda, nas palavras do Papa
Francisco, “cultura do descarte”.
Em suma, nossa geração não suporta viver a
solidez da vida. Bastam as coisas temporárias, momentâneas e passageiras. E
pensando assim, os relacionamentos já não precisam mais, necessariamente, ser
até que a morte os separe. Discursos do tipo “aproveitar bem a vida” descartam
qualquer tipo de consciência moral acerca da responsabilidade afetiva para com
o outro.
Embora tudo isso seja triste, é um fato; e
precisamos refletir a partir disto. Ora, quais seriam, portanto, as razões para
a frase “eu não quero me casar” ser proferida com frequência dos lábios dos
jovens? Dizia um antigo adágio que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”;
e desse modo, parece-nos que a grande crise humanitária está intimamente
associada a uma crise de referências, ou seja, uma enorme carência de exemplo
dentro da própria casa.
Para compreendermos isto, basta que nos questionemos:
o quanto somos capazes de perceber o extraordinário contido no ordinário do
convívio familiar? O quanto somos capazes de perceber a harmonia, o diálogo
sadio e a alegria presentes nas confraternizações familiares? Ou ainda, de modo
mais profundo e pontual: seríamos felizes constituindo uma família parecida com
a que nossos pais constituíram?
Parece que em nosso século aprendemos dentro
de casa a mentir, a fofocar, a odiar, dentre tantas outras coisas. Não são bons
valores. Essa perda de referencial faz com que os jovens, cada vez menos,
queiram a família como projeto de vida.
Enfim, atendamos o apelo do Papa Francisco:
“O testemunho mais persuasivo da bênção do matrimônio cristão é a vida boa dos
esposos cristãos e da família. Não existe maneira melhor de explicar a beleza
do sacramento”. Por isso, queridos noivos e noivas, o único caminho para
reconstruirmos a dignidade da família humana, é restabelecendo esta mesma
família como uma habitação-escola de valores, expressa nos exemplos de cada um.
Desse modo, entenderemos que “não é bom que o homem esteja só”.
Portanto, noivos e noivas: sejam vocês
testemunhas do amor verdadeiro de Deus na sua vida conjugal!
Sugestão de dinâmica: ouvir e refletir
a canção do Padre Zezinho “Oração pela família”. Link no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=XVsvmDoNUZU |
4.
A validade do sacramento
"Como gesto sacramental de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio deve ser, por si mesma, válida, digna e frutuosa." (CIC, 1622).
"Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e
uma mulher batizados, livres para contrair o Matrimônio e que expressam livremente
seu consentimento." (CIC, 1625).
"A unidade, a indissolubilidade e a abertura à
fecundidade são essenciais ao Matrimônio. A poligamia é incompatível com a
unidade do matrimônio. O divórcio separa o que Deus uniu. A recusa da
fecundidade desvia a vida conjugal de seu 'mais precioso dom': os filhos." (CIC,
1664).
Por isso, o Matrimônio sacramental:
·
É um ato litúrgico,
por isso, convém que seja celebrado na liturgia pública da Igreja;
·
Cria direitos e
deveres na Igreja, entre os esposos e relativos à prole;
·
Necessita de certeza,
daí a obrigação de haver testemunhas;
·
Deve servir de
exemplo e testemunho no mundo, mas, sobretudo, nos lares;
·
Concretiza-se na
consumação (relação sexual aberta à vida).
4.1
Os efeitos do Matrimônio
Quem celebra: os noivos; quem assiste: o
sacerdote ou outro ministro instituído pela Igreja.
O vínculo matrimonial é, pois, "estabelecido
pelo próprio Deus, de modo que o casamento realizado e consumado entre
os batizados jamais pode ser dissolvido. [...]" (CIC, 1640).
Matéria: noivos conscientes.
Forma: as palavras (fórmula) dita pelos dois
noivos.
Efeitos (frutos): unidade, amor, fidelidade,
fecundidade.
4.2
Fórmula oficial da Igreja
Eu, N., te recebo N. por minha esposa e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de nossa vida. |
Eu, N., te recebo N. por meu esposo e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de nossa vida. |
REFERÊNCIAS:
Bíblia
Sagrada.
CASTANHO, Amaury. O casal Humano na Sagrada
Escritura. Cachoeira Paulista/SP: Editora Canção Nova, 2005.
CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA. 2ª. ed. Brasília: Edições CNBB, 2013. p. 523-543.
DIRETRIZES
DIOCESANAS PARA OS SACRAMENTOS. Diocese de Jaboticabal. 2020.
MENDONCA, José Tolentino. Elogio da sede. São Paulo: Paulinas, 2018. Coleção travessias.
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