“EU NÃO QUERO ME CASAR”
“Os cristãos, quando se casam ‘no Senhor’, são
transformados em sinal eficaz do amor de Deus. Os cristãos não se casam somente
para si: casam-se no Senhor em favor de toda a comunidade, de toda a sociedade.”
(Papa Francisco)
A Liturgia deste fim de semana (27º Domingo do Tempo Comum – ano B) propõe uma genuína reflexão
acerca do matrimônio. Há de se notar algo muito belo: Deus, à medida que vai
criando, vê que tudo é bom. Ao criar o ser humano, vê que era muito bom (cf. Gn
1, 31). Todavia, há algo na criação que o Senhor viu que não era bom: “não é bom
que o homem esteja só” (cf. Gn 2, 18). Se nós somos a imagem de Deus, Uno e
Trino, parece óbvio que não fomos criados para a solidão, e sim para viver em
relação com outros, isto é, em comunhão, em comunidade.
Ademais, é pertinente perceber que, em nossa sociedade
atual, o que mais ouvimos dos jovens é a frase: “eu não quero me casar”. Assim
sendo, vale ressaltar a profunda crise humana que passamos, a ponto de
tratarmos o outro como coisa e não mais com a devida dignidade humana. A isto,
podemos chamar, na sociologia, de “coisificação”, ou ainda, o que o Papa
Francisco chama de “cultura do descarte”.
Em suma, nossa geração não suporta viver a solidez da vida.
Bastam as coisas temporárias, momentâneas e passageiras. E pensando assim, os
relacionamentos já não precisam mais, necessariamente, durar até que a morte os
separe. Discursos do tipo “aproveitar bem a vida” descartam qualquer tipo de consciência
moral acerca da responsabilidade afetiva para com o outro.
Embora tudo isso seja triste, é um fato; e precisamos refletir a partir disto. Ora, quais seriam, portanto, as razões para a frase “eu não quero me casar” ser proferida com tanta frequência pelos lábios dos jovens?
Dizia um
antigo adágio que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”; e desse modo, parece-nos
que a grande crise humanitária está intimamente associada a uma crise de referências,
ou seja, uma enorme carência de exemplo dentro do próprio lar.
Para compreendermos isto, basta que nos questionemos: o quanto somos capazes de perceber a extraordinariedade da vida matrimonial contida no ordinário do convívio familiar? O quanto somos capazes de perceber a harmonia, o diálogo sadio e a alegria de viver presentes nas confraternizações familiares? Ou ainda, de modo mais profundo e pontual: seríamos felizes constituindo uma família parecida com a que nossos pais constituíram?
Esta proposta não se resume em mascarar as dificuldades e renúncias existentes na vida conjugal, no entanto, consiste nos pais apresentarem aos seus filhos que é possível superar todo e qualquer tipo de dissabor à medida em que o amor reinar sobre todas as intempéries, afinal de contas, nós cantamos: "onde reina o amor, Deus aí está". Lembremos o que dizia São João da Cruz: “onde não há amor, semeia amor e colherás amor”. Portanto, a superação é o caminho; e não a desistência.
Mas parece que em nosso século aprendemos dentro de casa a mentir, a fofocar, a odiar, dentre tantas outras coisas. Não são bons valores. Essa perda de referencial faz com que os jovens, cada vez menos, queiram a constituição de uma família como projeto de vida.
Enfim, atendamos o apelo do Papa Francisco: “o testemunho
mais persuasivo da bênção do matrimônio cristão é a vida boa dos esposos
cristãos e da família. Não existe maneira melhor de explicar a beleza do
sacramento”. Por isso, queridos irmãos e irmãs, o único caminho para
reconstruirmos a dignidade da família humana, é reestabelecendo esta mesma
família como uma habitação-escola de valores, expressa nos exemplos de cada um.
Desse modo, entenderemos que “não é bom que o homem esteja só”.
Que assim seja.
Luis Gustavo da Silva Joaquim.
Parabéns pela profunda reflexão!
ResponderExcluirExcelente. Muito sábio esse meu amigo.
ResponderExcluirParabéns 👏
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