MONOGRAFIA 2021: "O minimalismo existencial de henry David Thoreau: a busca pela essência da vida na Ecologia"

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado e aprovado em 22 de novembro de 2021.

Instituto: Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (Brodowski/SP)

Aluno: Luis Gustavo da Silva Joaquim.

Orientador: Prof. Me. André Augusto Maia.

Título do trabalho: O minimalismo existencial de Henry David Thoreau: a busca pela essência da vida na Ecologia

Palavras-chave: Minimalismo. Transcendentalismo. Thoreau. Ecologia. Essência.

Resumo:

1.    INTRODUÇÃO

Na origem da filosofia antiga, para os filósofos pré-socráticos, havia uma constante busca pelo princípio das coisas, o que chamavam de Arché. Contudo, para a filosofia de Platão, a verdadeira realidade está no Eidos, isto é, na forma racional da coisa. Este pensamento é coroado com as teorias de Aristóteles, sendo que, para o estagirita, a essência e o acidente fazem as realidades existentes da substância. Nesse sentido, a essência das coisas consiste em algo próprio da identidade. Em outras palavras, tratar da essência é dizer o que faz a coisa ser o que ela é e não outra coisa.

Outrossim, ainda hoje nos perguntamos sobre o sentido da vida e das coisas, ou seja, independente de correntes ou escolas filosóficas (antigas, medievais, modernas ou contemporâneas), retornamos à pergunta primeira da filosofia: qual é a essência de todas as coisas?

Diante de uma sociedade capitalista, industrializada e cada vez mais de aparências, faz-se importante questionar: há essência na vida sem tudo isso que nos é imposto pelo mercado, pela mídia ou pela política? E, a partir disso, como fica a nossa relação com a Natureza?

Desse modo, para nortear esta questão, nos valemos nesta pesquisa das ideias e relatos do filósofo estadunidense Henry David Thoreau, em suas principais obras Walden ou A vida nos bosques e Desobediência civil, obras das quais Thoreau fundamenta seu pensamento no movimento filosófico, literário e poético chamado Transcendentalismo, desenvolvido na América do Norte, em meados do século XIX pelo ensaísta Ralph Waldo Emerson. Este movimento parte do pressuposto transcendental kantiano e exalta o indivíduo nas relações com a Natureza e a sociedade por meio de um estilo de vida solitário e crítico a fim de encontrar a essência da vida humana.

É a partir deste movimento que se destaca o nosso filósofo, poeta, naturalista e ensaísta estadunidense, Hery David Thoreau, que viveu entre os anos 1817 e 1862. Era um intelectual que se preocupava em buscar a verdade da vida. Nessa busca, insatisfeito com a sociedade em que vivia, no ano de 1845, com apenas 27 anos, decidiu morar no meio do bosque em um terreno que pertencia ao seu amigo Waldo Emerson, construindo assim, com as próprias mãos, uma simples casa às margens do lago Walden.

Ademais, diante das atuais condições do homem contemporâneo, este trabalho tem por intuito levar o leitor à reflexão da verdadeira essência da vida, de modo que este mesmo homem contemporâneo tome consciência que pode simplificar seu modo de viver no que diz respeito às suas necessidades materiais, encontrando assim, não apenas a verdadeira paz, mas também a conexão com sua essência em coexistência com a Natureza.

O método abordado para este estudo foi o descritivo, no sentido de identificar e elencar as teorias, relatos, e influências da vida de Henry David Thoreau no que tange a filosofia Transcendentalista, que se dá num estilo de vida individualista e autossuficiente e minimalista, frente à política vigente da época. Portanto, partimos do procedimento de revisão bibliográfica, de maneira a fundamentar esta pesquisa.

 

2.    DESENVOLVIMENTO

Assim sendo, este trabalho se divide em três capítulos. No primeiro capítulo, trazemos à luz um entendimento acerca dos pressupostos histórico-filosóficos em que nosso autor se encontra. Nele, descrevemos o Transcendentalismo estadunidense fundado por Ralph Waldo Emerson, e assumido por Henry David Thoreau. O Transcendentalismo é um movimento filosófico e poético desenvolvido na América do Norte, por Ralph Waldo Emerson, nas primeiras décadas do século XIX e tem suas origens no Romantismo Inglês. Ademais, é herdeira da Filosofia Transcendental kantiana, e por isso, prega a correspondência entre o espírito humano e a Natureza, sendo que, este pleno desenvolvimento espiritual envolve a descoberta íntima da verdade pessoal, o que resulta, em Thoreau, na coexistência com a Natureza, isto é, uma vivência naturalista; ou em termos contemporâneos, uma vivência ecológica e minimalista. A partir deste referencial teórico, portanto, que Thoreau busca o verdadeiro sentido da vida.

No segundo capítulo, abordamos o resultado dos dois anos, dois meses e dois dias de Thoreau vivendo da autossuficiência no bosque, a partir do seu relato no livro Walden ou A vida nos bosques, uma obra que se tornou referencial para os princípios do que, hoje, chamamos de Ecologia, além das duras críticas à sociedade capitalista da época, propondo uma vida simples em coexistência com a Natureza. Assim, a busca de Thoreau pela essência da vida está nas coisas mais simples, para que possamos viver bem, “defrontar apenas com os fatos essenciais da existência, [...] expurgando tudo o que não fosse vida” (THOREAU, 2018, p. 81). Para isso, nosso autor propõe alguns apelos feitos à nossa consciência, sendo eles: simplicidade, solidão, trabalho e leitura.

Enfim, no terceiro capítulo refletimos acerca do encontro de Thoreau com a essencialidade da vida por meio do minimalismo existencial, prefigurando, portanto, o que hoje conhecemos por Ecologia. A partir disto, destacamos a importância de uma filosofia ecológica, bem como a necessidade de uma profunda educação ambiental na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a fim de refletirmos sobre nossa conduta diante da Natureza. Daí também, a importância de eventos com esta temática, como a Conferência Eco-92, sendo a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992; e recentemente, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), realizada entre os dias 31/10 e 12/11/2021, na Escócia.

 

3.    CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas considerações finais do nosso estudo, podemos perceber que, o descontentamento de Henry David Thoreau acerca da sociedade do século XIX rendeu ao filósofo a oportunidade de construir seu pensamento com o objetivo de libertar-se de tudo o que não fosse essencialmente vida, chegando à experiência de viver no minimalismo em harmonia com o meio natural. Logo, tivemos neste trabalho, o propósito de apresentar como o pensamento de um autor de séculos passados pode nos ajudar a pensar nosso modo de vida ainda hoje, bem como a importância da coexistência com a Natureza e tudo o que deriva dela.

Nosso filósofo continua atual no século XXI, pois é inspiração para diversos movimentos libertários que contestam o crescimento econômico, o modelo capitalista de acumulação de riquezas, qualquer tipo de escravização, e, sobretudo, a degradação da Natureza.

Desse modo, antes mesmo dos grandes movimentos revolucionários da Europa, a partir de 1848, como a publicação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, Thoreau se tornou pioneiro do movimento ambientalista e, por conseguinte, suas obras passaram a ter grande influência nos amantes da Natureza nas décadas e séculos seguintes, a ponto de inspirar ativistas políticos famosos hoje, como, Tolstói, Gandhi e Martin Luther King Jr. Ademais, é considerado um “anarquista individualista”, por propor uma mudança individual, isto é, que cada um faça sua parte para viver em um mundo melhor.

Para pensar tudo o que tratamos no trabalho, de modo pessoal em nossa vida, basta que comparemos nossas rotinas com as de Thoreau: somos fiéis aos livros, mas ele escrevia com uma pena, nós no teclado; nós caprichamos na cozinha para fazer os pratos mais deliciosos e requintados, enquanto ele só comia o que cultivava em sua horta; vez ou outra, por semana, vamos às compras encher o carrinho, enquanto que ele também ia à bodega, comprar o essencial; compramos ou construímos casas, palácios ou mansões carregados de decoração, futilidades e exibicionismos, enquanto ele construiu à próprio punho uma cabana suficiente para manter-se protegido enquanto dormia.

A proposta de Thoreau em afastar-se de muitas coisas para expulsar tudo o que não fosse essencialmente vida, nos ensina, em última instância, a capacidade de despertar também para uma vida verdadeira, simples, com o necessário e em profunda harmonia com a Natureza, o que designa um pensamento profundamente ecológico.

Desse modo, nos desfazendo dos excessos e religando-nos à Natureza, conforme Thoreau (2018), buscaremos os fatos essenciais da vida, aprendendo dela o que ela tem de melhor a nos ensinar, e não descobrir somente na hora da morte que não tínhamos vivido. Portanto, escreve Thoreau: “não queira viver o que não for vida, sendo a vida tão preciosa” (THOREAU, 2018, p. 81). 



Comentários

Postar um comentário