O TRIGO E O JOIO
Jesus contou outra parábola
à multidão: 'O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu
campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo,
e foi embora. Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu
também o joio. Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: 'Senhor, não
semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?' O dono respondeu:
'Foi algum inimigo que fez isso'. Os empregados lhe perguntaram: 'Queres que
vamos arrancar o joio?' O dono respondeu: 'Não! Pode acontecer que, arrancando
o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita! E,
no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e
o amarrai em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu
celeiro!'' (cf. Mt 13,24-30)
Dentro de nós
existe o trigo e o joio. Independente se gostamos ou não, somos pessoas, e isso
implica na junção de corpo, alma e espírito, segundo a concepção
aristotélico-tomista. Não podemos nos apegar a um e descuidar dos outros, mas
sim, atingir a santidade de vida harmonizando o que somos por completo: as
virtudes e os vícios.
Acontece que,
para tudo há hora certa. A parábola nos ensina que não podemos arrancar o joio
do trigo na força do ímpeto momentâneo, mas viver um profundo kairós, isto é, o tempo de Deus.
E viver o tempo
de Deus significa aceitar o que somos. Não aquilo que fomos, pois, o passado
serve apenas como aprendizado e referência; muito menos prender-nos àquilo que
seremos, pois o futuro é incerto, mas sim, viver o hoje; o aqui e agora. Em
suma, aquilo que temos e somos no hoje da nossa história. Deus nos chama hoje.
Deus nos quer hoje.
Muitas vezes
pecamos justamente por isso. Não aceitamos nossa humanidade e julgamo-nos seres
superiores a tudo e a todos. Achamo-nos na condição de puro trigo, quando na
verdade, escondemos tudo o que temos de joio. De fato, é uma forma de mentir
para si mesmo. Mas há um problema nisso: Deus nos conhece por dentro, conhece o
nosso coração.
Devemos,
portanto, desejar sim ser trigo, mas para isso, é preciso que aceitemos o nosso
joio. Além do mais, “só é redimido o que for assumido”, diz São Gregório de
Nazianzeno.
Peçamos a cada
dia, esta graça para o Senhor:
Quero ser trigo
e viver a paciência do plantio
do ciclo
do tempo.
Cultivar o amor e a mansidão
a ponto de perceber
as necessidades do mundo
e me tornar compassivo
como Tu
que amas por profundo!
Ensina-me a compreender
a hora certa das coisas
para separar bem:
o trigo do joio
a doação da ilusão
e a cilada da oportunidade.
Tu que és o próprio semeador
ajuda-me, Senhor!
Luis Gustavo da Silva.
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