Como esponjas: retemos e expelimos

 

Na liturgia de hoje, quarta-feira da III Semana da Quaresma, somos interpelados, na primeira leitura, pela perícope de Dt 4,1.5-9. O livro do Deuteronômio trata de dois aspectos que estão intrinsecamente interligados: a importância e observância da lei, bem como a posse da terra prometida. Desse modo, estando interligados, a conquista da terra prometida é a consequência da observância da lei.

Na leitura de hoje, Moisés adverte ao povo a importância da obediência para conquista da promessa. É justamente por isso que o livro se chama Deuteronômio, que, etimologicamente, significa “segunda lei”. Não que Deus tenha mudado seus mandamentos, no entanto, é preciso reafirmar aquela mesma aliança firmada no Sinai pelo decálogo. Aqui, o texto nos recorda da importância da nossa constante relação com Deus: pela Escritura, pela oração, pelos sacramentos, etc.

Em suma, o futuro do povo de Israel estava diretamente ligado ao quanto eles seriam capazes de guardar e viver os mandamentos do Senhor. Todavia, não basta guardar para si, mas é preciso que sejamos como esponjas espirituais, isto é, tenhamos a capacidade de reter, e ao mesmo tempo, expelir (em bom sentido) aos irmãos. É como termina a perícope: “procura com grande zelo não te esqueceres de tudo o que viste com os próprios olhos, e nada deixes escapar do teu coração por todos os dias de tua vida; antes, ensina-o a teus filhos e netos.” (Dt 4, 9). Moisés chama o povo a fazer uma reflexão a partir das experiências vividas desde a escravidão à libertação, para nunca se esquecerem do Deus que os ajudou na travessia do deserto rumo à Terra Prometida.

Ora, a partir da experiência que temos do Senhor, somos naturalmente impelidos a transmitir! A graça de Deus é tão grande que não pode ser guardada, num gesto de egoísmo, mas deve ser compartilhada como gesto próprio da essencialidade do que é cristianismo!

Como anda a transmissão da fé aos nossos filhos, amigos e catequizandos? Não podemos terceirizar o que é próprio da experiência familiar, íntima e fraterna. De nada adianta textos, livros e palestras se não houver a pessoalidade da experiência, do amor e da caridade.

Não podemos tornar-nos cristãos vazios de experiência do amor divino, pois, também transmitiremos coisas vazias às futuras gerações. Afinal de contas, o próprio Moisés retoma os mandamentos para evitar o perigo de o povo se esquecer dos atos salvíficos do Pai.

Que o espírito quaresmal impulsione a nossa experiência com o Senhor, a ponto de sermos viventes e transmissores da graça divina, pois, se nos esquecemos dos mandamentos de Deus, estaremos sempre fadados à escravidão. Assim seja.

(Luis Gustavo da Silva)





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