“Sê fiel a ti mesmo”
(Encontro com
professores e alunos: ETEC DANS, 07/05/2022. Online.)
OBJETIVO GERAL Provocar uma reflexão
profunda e aberta acerca da vida escolar, sob a ótica da realidade
pós-moderna e pós-pandêmica. No entanto, a mesma reflexão deve gerar práticas
palpáveis e possíveis para os alunos e professores a aproveitarem e
promoverem, de modo integral, uma formação acadêmica humanizada. |
Há um trecho magnífico na obra de Willian Shakespeare
que pode nortear a nossa reflexão, tanto para a Educação como para a vida. Trata-se
de um conselho que Polônio dá para o seu filho Laertes; é ela: “acima de tudo
sê fiel a ti mesmo. Disso se segue, como a noite ao dia, que não podes ser
falso com ninguém.” (Shakespeare; Hamlet; ato I, cena 3).
Este é o caminho: se quisermos viver na verdade
com os outros, é preciso que também saibamos a verdade de nós mesmos. Assim,
podemos pensar a escola e também a vida. Ademais, escola e vida devem ser
pontos convergentes ao longo da nossa existência. Hoje, mediante a realidade
pós-pandêmica, urge a necessidade de criarmos novas experiências entre escola e
vida: que seja uma experiencia harmônica, humanizada, alegre e frutuosa. Do
contrário, teremos cada vez menos profissionais dispostos a lecionar ao passo
de menos alunos interessados em estudar.
Daí, podemos pensar também em uma escultura
muito conhecida, chamada de “Self Made Man” (Tradução livre: “homem que se fez
a si próprio”), feita por Bobbie Carlyle.
Por meio dela, podemos pensar a nossa própria
vida: nos fazemos e refazemos a todo instante: pelas amizades, pelas conversas,
pelas leituras, enfim, em cada escolha que fazemos diariamente. Ademais, fazemos
escolhas a todo momento! Isto é inevitável. Até mesmo inconscientemente, quando
escolhemos vestir uma roupa, automaticamente, excluímos demasiadas outras
opções de indumentárias.
Todavia, quando falamos de constantes escolhas
na vida, é mister que pensemos também se, estamos criando raízes ou âncoras.
Ora, as raízes nos permitem crescer, mudar de atitudes e pensamentos, mas manter,
concomitantemente, a nossa essência, isto é, a fidelidade à pessoa que somos.
Seria, na verdade, sinônimo de amadurecimento. Ao contrário, criar âncoras nos
fazem ficar fechados em nós mesmos, nos nossos achismos, nas nossas fajutas
posturas, e pior de tudo, nos achando as pessoas mais bem instruídas do mundo!
Pobres de nós, meros mortais arrogantes! Alunos arrogantes são um perigo.
Professores arrogantes são um perigo. Portanto, tomemos cuidado.
***
O poeta Vinícius de Moraes dizia que “a vida é
a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. É importante
pensarmos isto nos âmbitos escolar e familiar, sobretudo neste contexto de
pandemia, pois, é preciso que nos libertemos da mentalidade de “ditadura do
sorriso”, isto é, a fajuta ideia de aparências promovida, sobretudo, pelas redes
sociais, em que todos estão felizes e sorridentes o tempo todo. Nem sempre. Temos
altos e baixos durante a vida, e está tudo bem. Não tem problema em sofrer. No
entanto, é preciso maturação diária a ponto de abrir-se, conversar e pedir
ajuda a fim de solucionar. A escola também é lugar para isto! Ademais, dizia Jung:
“conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão
dos outros”.
As questões existenciais, portanto, são: somos
determinados pela vida ou determinamos a vida? O que eu espero da escola ou o
que a escola espera de mim? Pensemos nisto.
***
Nossa compreensão da vida deve ser ampliada: Cada
um é único e singular, nenhum ser humano pode ser comparado com outro e nem
pode ser substituído no processo, que é próprio de cada um. E nesse sentido,
vamos percebendo que a escola é:
·
Lugar de gente:
alteridade, empatia, autoridade.
·
Lugar de valores:
respeito, convivência, autonomia, diálogo, esperança.
·
Lugar de experiência:
presença, resolução de conflitos, processo (formação).
Coroando tudo isto, nesta semana “Paulo Freire”,
uma frase do educador: “O educador se eterniza em cada ser que educa.” Isto, de
fato, é verdade. Todavia, essas marcas nem sempre são positivas. Como têm sido
nossas relações de aluno x professor; escola x família, coordenação x
professor, coordenação x aluno, etc. Não podemos achar que tratamos de massas,
ou de meros nomes em listas de chamadas. Tratamos com gente! E gente que
sente... isto não pode ser ignorado em uma verdadeira educação humanizada para
os nossos dias.
POEMA:
A ESCOLA É[1]
Escola é ...
o lugar que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é sobretudo, gente
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente,
O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
Fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este, mais do que nunca, é o tempo de humanizar
o processo de ensino-aprendizagem. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da
Saúde em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria[2] constatou
que, entre 2009 e 2019, 166.054 adolescentes, entre 15 e 19 anos, foram
internados em clinicas psiquiátricas por graves problemas psicológicos.
Imagine, então, neste tempo de pandemia, para os jovens que estudam tanto no
Ensino Fundamental como Ensino Médio, quantas não são as dificuldades
encontradas.
A realidade da educação nos interpela e exige
profunda conversão de todos. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da
vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento
pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania. Refletir
e atuar a favor da educação é [...] reconhecer que algo pode e deve mudar neste
cenário e, principalmente, em nossas relações[3].
Desse modo, não podemos perder de vista o
sentido, conforme Morin (2020, p. 55) “as insuficiências políticas, econômicas
e sociais reveladas pela pandemia, assim como os grandes perigos de retrocesso
que ela aumentou, tornam indispensável uma nova via”. Para tanto, a nova via se
chama humanização. Sem ela, deixamos de ser, paulatinamente, o que
verdadeiramente somos.
Concomitante a isto, neste longo e belo
processo de ensino-aprendizagem, para os tempos atuais e também o
pós-pandêmico, vamos entendendo que educar não é um ato isolado e muito menos
que se faz sem uma profunda humanização, mas antes de tudo é encontro entre
educador e educando. É tarefa de todos, pois como dizia um antigo adágio
africano: “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”.
QUESTÕES
PARA REFLEXÃO E DEBATE:
·
O que a escola
significa para mim?
·
Quais as diferenças pré
e pós pandemia?
·
Quais influências
(positivas/negativas) da escola, dos professores ou dos alunos?
·
O que podemos aprender
com a pandemia para iniciar novos processos que contribuam para o nascimento de
uma nova realidade educacional?
REFERÊNCIAS
E SUGESTÕES DE LEITURAS:
BOOF,
Leonardo. A águia e a galinha: uma
metáfora da condição humana. Petrópolis: Vozes, 2017.
CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra?: inquietações sobre
gestão, liderança e ética. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
KRENAK,
Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 2. ed.
LIBANIO,
João Batista. Introdução à vida intelectual.
2a ed. São Paulo: Loyola, 2001.
MORIN,
Edgar. A cabeça bem-feita: repensar
a reforma, reformar o pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. 24. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2018. 128p.
MORIN, Edgar. É hora de mudarmos de via: as lições do
coronavírus. São Paulo: Bertrand Brasil, 2020. 98p.
[1] Escrito
por Paulo Freire. Disponível em:
<http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/07082015_poema__a_escola.pdf>
[2] Disponível
em:
https://www.folhadelondrina.com.br/geral/saude-mental-de-criancas-e-adolescentes-em-xeque-2974609e.html.
Acesso em 14 de fev. de 2022.
[3] CNBB:
Texto base da Campanha da Fraternidade, 2021, p. 16.
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