26º DOMINGO DO TEMPO
COMUM – ANO C
Am 6,1a.4-7 | Sl
145(146),7.8-9a.9bc-10 (R. 1) | 1Tm 6,11-16 | Lc 16,19-31
Na liturgia deste fim de semana, continuamos
a leitura de Lucas. Por isso, é mister salientar que Lucas é o evangelista dos
pobres. Nesse sentido, ele situa essas catequeses de Jesus aos discípulos
enquanto se faz o caminho até Jerusalém. Desse modo, eles estão sempre a
caminho; assim, nossa vida é peregrina: somos viajantes rumo à Jerusalém
celeste.
Posto isto, adentramos no Evangelho. Jesus
conta aos fariseus a parábola do homem rico, sem nome, que se vestia de púrpura
e linho fino e dava festas requintadas, e do pobre, chamado Lázaro, que ficava
à porta do rico comendo as migalhas. De início, há um contraste de duas
realidades, justamente por este fato de um ter nome e outro não. Na escritura,
sempre que não aparece nome próprio, podemos nos identificar com a personagem.
Ainda na parábola, quando as duas
personagens morrem, Lázaro é acolhido pelos anjos e levado para junto de
Abraão, pai da fé do povo de Israel, ao passo que o rico vai para a mansão dos
mortos, experimentar os tormentos. Nesta condição, ele toma consciência do
abismo entre si e Lázaro. A distância [social] da vida terrena continua na vida
eterna, no entanto, de modo invertido – o nome Lázaro significa “Deus ajuda”. Todavia,
já não há mais possibilidade de mudança. Nesse sentido, há um alerta para nós,
cristãos: é preciso que façamos a opção preferencial pelos pobres no aqui e
agora da nossa história, não podemos protelar as urgências da realidade humana
dos que mais sofrem.
Outrossim, a crítica maior de Jesus (e o
motivo da condenação do rico) é o fato dele não ter colocado sua riqueza a
serviço dos menos favorecidos, mas ao contrário, zombou da cara do pobre,
negando-lhe comida.
Ora, Jesus não condena os ricos, mas sim a
atitude de acúmulo exacerbado a partir da exploração dos menos favorecidos.
Isto é, Jesus condena a INJUSTIÇA. Ora, o próprio apóstolo, na segunda leitura,
adverte-nos contra alguns perigos e sugere que mantenhamos a justiça, a
piedade, a fé, o amor, a firmeza e a mansidão.
Amós, na primeira leitura, relata a situação
cômoda da elite israelense: deitados em leitos de marfim, estirados em divãs,
saciando-se de cordeiros, bezerros e vinhos, cantando e festejando, sem se afligir
com a ruína de Israel. Tanto Jesus quanto o profeta e o apóstolo, denunciam o
descaso de quem deveria comprometer-se com a justiça social.
Hoje, vivemos numa sociedade marcada por
alguns fatos:
·
4 entre 10 famílias brasileiras conseguem acesso pleno à
alimentação, o que equivale a 33,1 milhões de pessoas que experimentam da fome. (Disponível em: https://www.oxfam.org.br/noticias/fome-avanca-no-brasil-em-2022-e-atinge-331-milhoes-de-pessoas/);
·
9,3% da população brasileira está desempregada, o que
equivale a 10,1 milhões de pessoas.
(Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/taxa-de-desemprego-cai-para-93-no-2o-trimestre-diz-ibge/#:~:text=A%20taxa%20de%20desemprego%20caiu,4%2C8%20milh%C3%B5es%20de%20pessoas);
·
40,8% das crianças brasileiras não são alfabetizadas, o
que equivale a 2,4 milhões de crianças. (Disponível
em: https://exame.com/brasil/pesquisa-jovens-brasileiros-alfabetizados/).
Desse modo, a palavra de Jesus torna-se mui atual.
E por isso, cabe-nos a reflexão de como estamos nos sensibilizando e agindo
mediante os menos favorecidos. Claro, não podemos fazer tudo, mas daquilo que podemos,
o que temos feito? Lembremo-nos que “Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre e
por amor; para que sua pobreza nos, assim, enriquecesse” (2Cor 8, 9).
No fim da parábola, é interessante que o
rico insiste uma última vez, pedindo que alguém ressuscite dentre os mortos
para avisá-los. Contudo, nem mesmo que alguém voltasse da morte à vida, para
anunciar uma mensagem de desapego das coisas materiais, eles acreditariam. Isto
porque, a vida deles está pautada no apego e no acúmulo de riquezas, sem a
abertura para a caridade. Somente a verdadeira experiência com Jesus Cristo na Eucaristia,
na Palavra e no Irmão são capazes de converter o coração para a verdadeira
caridade. A ganância e o acúmulo são contrários ao Evangelho.
A certeza é que pobre tem um motivo para
viver: mesmo apesar das angústias causadas pela privação material, ele possui a
convicção de que Deus o ajuda - por isso chama-se Lázaro. Sejamos transmissores
da esperança, da misericórdia e da partilha. Peçamos o auxílio de Maria
Santíssima para acolher no coração esta Palavra e viver conforme o mandamento
do amor a Deus e ao próximo.
Assim seja.
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