HOMILIA – 10/11/2022
Escutamos
no Evangelho de hoje o chamado "Pequeno discurso escatológico" de Jesus,
escrito por Lucas. Trata-se do ensinamento de Jesus, provocado por uma pergunta
dos fariseus acerca do tempo em que há de vir o Reino de Deus.
Jesus
não dá uma resposta exata, até porque ele não veio para satisfazer
curiosidades. Isso quer dizer que nós não devemos cair em ilusões, mas é
preciso que aprendamos a discernir situações, pessoas, relações e objetos que
possam tirar a nossa atenção ou desviar a nossa fé.
Em
outras palavras, às vezes, perdemos tempo e energia com coisas desnecessárias
para a nossa fé e para a nossa vocação. Quantas vezes nós ficamos presos a
coisas pequenas, picuinhas, ressentimentos, e deixamos de cuidar da nossa
própria fé, da nossa espiritualidade, da nossa vocação? O Reino de Deus não
deve ser procurado em manifestações extraordinárias, mas na correspondência
habitual, no dia a dia, à luz do Espírito Santo.
Não
é a toa que o papa Francisco têm dedicado suas catequeses de quarta-feira ao
tema do discernimento. Sem saber discernir as moções do Espírito em nosso
cotidiano, nós não viveremos bem nenhum âmbito da nossa vida pessoal ou
comunitária.
Como
verdadeiro mestre, Jesus nos alerta para possíveis desvios, e indica o caminho
que devemos seguir, nas palavras de Paulo: caridade e liberdade. Se quisermos
manifestar a presença do reino aqui e agora, precisamos amar (caridade)
livremente.
O
próprio Apóstolo encontrou uma solução completamente nova para sua época
mediante um escravo fugitivo: mandou o escravo de volta ao seu dono, com uma
carta pedindo que Filêmon recebesse Onésimo, já não mais como escravo, mas como
um irmão em Cristo. Quantas vezes não fazemos o inverso, e tratamos o irmão
como escravo? Isto não é amor; isto não é liberdade; isto não é cristianismo.
Afinal de contas, é para a liberdade que Cristo nos libertou. E a liberdade
implica em discernimento!
Olhando
ainda para este curto e profundo Evangelho, me chamou atenção o último
versículo, que diz: “antes, porém, o Filho do Homem deverá sofrer muito e ser
rejeitado por esta geração” (v. 25). Meus irmãos, como é difícil discernir a
vontade de Deus nos sofrimentos, na rejeição, na doença ou no fracasso. Mas,
como rezávamos no salmo: “feliz é quem se apóia no Deus de Jacó”. É com ensina
Santo Inácio de Loyola nos Exercícios Espirituais: é preciso que encontremos
Deus em tudo!
***
Hoje
celebramos a memória de São Leão Magno. Segundo consta no breviário, ele foi um
papa equilibrado em suas pregações, utilizando linguagem simples e límpida;
convocou um concílio para tratar questões doutrinárias; formulou a liturgia do
tempo do Natal; enfim, são provas de que soube discernir a voz de Deus na sua
vida e vocação, mediante as marcas do seu tempo, isto é, soube viver o reino. E
por isso é Magno, é grande; porque antes, se fez pequeno, discípulo e servidor.
Que
Maria Santíssima, a Senhora do Monte Carmelo, juntamente com São Leão Magno, os
anjos e santos, nos ajudem a discernir em nossa vida e vocação as coisas que pertencem
ao Reino para abraçar, e as coisas que não pertencem ao Reino, para rejeitar.
Por
fim, partilho com vocês uma bonita oração que gosto de São Francisco de Assis: “Senhor,
dai-me força para mudar o que pode ser mudado; resignação para aceitar o que
não pode ser mudado; e sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.
Assim seja. Amém!
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