Como sabemos a Semana Santa, também conhecida por “semana
maior”, é o centro da nossa fé, pois, nela celebramos a paixão, morte e
ressurreição do Senhor.
Tratar a Semana Santa como um fato social é bastante comum
em nossa sociedade hoje: filmes e teatros relatando o episódio da crucifixão
tomam conta da programação das mídias sociais. Muito é de se estranhar que,
numa sociedade hedonista, cujo sofrimento é rejeitado, tenda a esses eventos.
O grande perigo, no entanto, está naqueles cristãos que
participam da sexta-feira da paixão, mas não voltam para o sábado da
ressurreição. Isto deveria ser um escândalo! Basta observar o número de fieis
que participam nestas celebrações...
É preciso que rolemos a pedra do túmulo a fim de dizer como
aquelas mulheres “Vimos o Senhor”. Trata-se de uma experiência de encontro, de
amor, de eternidade. Assim, ressuscitaremos também para as mortes da vida
cotidiana que cerca nossa família, nossa casa, nosso trabalho ou nosso estudo.
Tudo tem sentido a partir do Ressuscitado, até mesmo a cruz!
Certos disto, poderemos melhor viver e celebrar a Semana
Santa, sobretudo, o Tríduo Pascal.
Jesus se reuniu com seus apóstolos para uma última refeição
juntos. Isso porque sabia do que o esperava em algumas horas. Na ceia, toma o
pão e o vinho, dizendo, respectivamente: “isto é o meu corpo”; “isto é o meu
sangue”. Ainda, como gesto de humildade e mansidão, lava os pés dos discípulos
recomendando que façam o mesmo em memória dele. Não tem gestos e palavras mais
genuínas de amor que estas de Jesus. Ensinando os seus, ensina a todos nós,
cristãos do século XXI, que nossa vida deve ser um profundo amar e servir. Do
contrário, nossa comunhão eucarística de nada vale!
Por isso, neste dia, celebramos a instituição do sacramento
da Eucaristia. Jesus deixa aos homens um sinal da sua presença no pão e no
vinho, que por sua vez, são consagrados pelo sacerdote. Desse modo, além da
instituição da eucaristia, este é o dia em que Cristo instituiu, também, o
sacerdócio ministerial.
Na primeira sexta-feira santa foi dia de dor e agonia. Jesus
foi julgado por um tribunal que já tinha a condenação pronta antes de qualquer
direito de defesa: era morte de cruz. No calvário, Jesus carregou a pesada
cruz, e com ela, o peso dos nossos pecados. Na cruz, tem sede e lhe servem
vinagre. Exclama “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”.
De pé, diante da cruz, permanecem Maria e João, o discípulo
amado. Quanta dor e sofrimento para eles assistirem a tudo isso! O lado de
Jesus é traspassado pela lança de um soldado. Conhecemos pela tradição que este
soldado é São Longuinho. E num gesto de amor incondicional, ele entrega o seu
Espírito dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, e depois, “tudo
está consumado”.
Celebramos, por isso, a paixão e morte de Jesus Cristo na sexta-feira
santa. O silêncio, o jejum, a abstinência de carne e a oração devem marcar este
dia. Às 15 horas, horário em que Jesus foi morto, é celebrado o ato litúrgico
da Paixão do Senhor. (Nota: este é o único dia em que não se pode celebrar
missa). Depois desse momento não há mais comunhão eucarística até que seja
realizada a celebração da Páscoa, no Sábado Santo.
Faz-nos recordar das tantas cruzes que homens e mulheres
carregam diariamente. Como permanecemos indiferentes a isto?
Esta é a noite santa da ressurreição gloriosa de Jesus. É a
chamada “a mãe de todas as vigílias”, porque a Igreja se mantém em vigília à
espera da vitória do Senhor sobre a morte no fim dos tempos. Como Cristo morreu
e ressuscitou, nós cristãos professamos que, por esse mesmo mistério, somos
também libertados da morte e reconduzidos à vida eterna.
A cruz não é mais um escândalo, pois Jesus foi ressuscitado dos
mortos. Tudo agora ganha um novo sentido: o sentido da vida! Morrer qualquer um
pode, mas somente o Filho de Deus pode ressuscitar para prenunciar a nossa ressurreição
na consumação dos tempos. Cantamos: “ó morte onde está tua vitória? Cristo ressurgiu,
honra e glória!”.
Jesus vive, Jesus reina! Agora podemos, enfim, entoar solenemente
o ALELUIA!
***
Apresentar
o Mistério Pascal (paixão, morte e ressurreição) como ponto central da fé da
Igreja é trazer para primeiro plano a ação salvífica realizada “por Cristo, com
Cristo e em Cristo”. Toda a ação evangelizadora da Igreja depende desse
mistério, que não é uma doutrina, mas a apresentação própria da pessoa de Jesus
(DAp, 244).
Sentado
à mesa e todo inflamado de amor, Jesus se volta para os seus discípulos e lhes
diz: Desiderio desideravi hoc Pascha manducare
vobiscum — “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa” (Lc 22,
15). Alegres com este convite do próprio mestre, preparemo-nos para bem
celebrar o Mistério da sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Enfim, a novidade da Semana Santa somos nós mesmos: nos
tornamos pessoas novas em Cristo. Afinal de contas, “se morremos com ele, com ele
também ressuscitaremos”.
Feliz e Santa Páscoa!
Deus
abençoe você!
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