Jesus: aproximação histórica | Opinião

 

JESUS: APROXIMAÇÃO HISTÓRICA

PAGOLA, José Antonio. ISBN 978-85-326-4017-8

O padre José Antonio Pagola é um teólogo nascido em 1937, no País Basco (norte da Espanha). Estudou as Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, e também na École Biblique de Jerusalém. Produziu cerca de 20 livros, no entanto, existe um deles nas livrarias um tanto quanto polêmico e, concomitantemente, rico em conteúdo, de 656 páginas, chamado “Jesus: aproximação histórica”. Trata-se de um verdadeiro trabalho científico acerca de Jesus, e é sobre esta obra que me disponho a traçar breves comentários a seguir.

            Em primeiro momento, é mister afirmar que o intuito deste livro, como o próprio autor coloca em sua apresentação, é de “se fazer conhecer a pessoa e a mensagem de Jesus” (p. 11). Ao mesmo tempo o teólogo exorta que, o modo de ler a obra, não deve ser como uma história bibliográfica de Jesus (p. 23).

O fato é que, a Conferência Episcopal Espanhola publicou, através de sua Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, em junho de 2008, uma “Nota de clarificación sobre el libro de José Antonio Pagola, Jesús. Aproximación histórica”. Esta elenca 21 pontos e em que o livro em questão, “deixou a desejar”, desde os aspectos metodológicos até doutrinários. Isso foi necessário porque, afirmava a nota da Conferência, a leitura do livro havia causado muita confusão e, por isso, seria necessário um esclarecimento.

Nota: Essas recomendações da Conferência Espanhola podiam ser encontradas no link http://www.conferenciaepiscopal.es/doctrina/documentos/pagola.pdf, todavia, não mais. Aparentemente o site teve uma manutenção em seu banco de dados e os arquivos anteriores a 2020 foram retirados. A mensagem que aparece, na íntegra, ao acessar o link é: “La página que buscas no está disponible en este servidor. Si tu búsqueda se refiere a contenido de la CEE anteriores a 2020, es posible que la puedas encontrar en este enlace, que conduce a la página de archivo”. Deixo aberto os comentários deste post para quem conseguir o acesso a este material afim de democratizar o estudo acadêmico.

Destas notas, o que sabemos que, metodologicamente, a obra foi notificada, basicamente, por três questões:

·         Dissociação entre fé e história;

·         Dúvida acerca da historicidade dos Evangelhos;

·         Leitura histórica de Jesus a partir de pressupostos “confusos”.

De fato, é preciso ler Pagola com muita cautela para não estremecer as bases da fé, no entanto, é uma leitura de tão fácil compreensão e de conteúdo tão rico, que chega a emocionar o leitor. Algumas questões históricas e arqueológicas são colocadas em “cheque” com o que conhecemos tradicionalmente; cito alguns:

a.       Pagola apresenta algo que não é novidade e outros autores por ele citados, já o disseram: Jesus morreu com trinta e tantos anos (não, necessariamente, 33), e foi crucificado numa pedreira, fora de Jerusalém, provavelmente, em 7 de abril do ano 30 (p. 399).

b.      Apresenta que os irmãos de Jesus eram, de fato, irmãos, mas não por parte de Maria, pois ela permanece virgem. Talvez, por parte de José.

c.       Em Nazaré não havia um templo (p. 73).

d.      Sobre a Santa Ceia: é muito possível que não tenha sido uma ceia pascal, mas sim, um jantar de despedida antes da Páscoa dos Judeus;

e.       Não houve, de fato, uma sessão oficial do Sinédrio depois que prenderam Jesus, mas foi uma reunião informal na casa de Caifás com o intuito de conduzi-lo a Pilatos.

f.       Afirma que “Jesus também não é condenado por sua pretensão de ser o ‘Messias’ esperado” (p. 452).

Nota: vale lembrar que isto tudo é fragmento e que possui o seu devido contexto, afinal de contas, as últimas edições do livro foram publicadas sob autorização das autoridades eclesiais competentes. Para saber mais, leia o livro na íntegra. Meu intuito aqui é apenas incentivar a leitura da obra, como se pode perceber no último parágrafo.

Enfim, estes são somente alguns pontos que demonstram que é preciso ler, de fato, com muita cautela e compreensão. Hoje, no entanto, temos edições já revisadas e corrigidas pelo próprio autor depois das notas da Conferência Espanhola. Isso mostra que, acima de tudo, há comunhão entre Pe. Pagola e a Igreja de Jesus Cristo. Assim deve ser exemplo a todo cristão, não somente àqueles que se dedicam aos estudos das Letras Sagradas, pois, a fidelidade à Escritura, à Tradição e ao Magistério são fundamentais para que exista plena comunhão eclesial. Do contrário, automaticamente, já estamos em excomunhão. Pensemos: quantos de nossos irmãos e irmãs de comunidade não vivem em excomunhão? Tantos quantos se acham mais que o próprio papa!

Afinal de contas, quem é Jesus para nós? Quantas vezes instrumentalizamos “o  jesus” que dizemos crer. Pe. Pagola está numa tentativa de, realmente, aproximar os cristãos daquele que é o modelo. É como diz Frei Beto: “Jesus, tão humano que só pode ser divino”. Não podemos mais ficar presos a adágios decorados sobre quem é Jesus. Muito menos coisificar Jesus para os nossos prazeres, emoções, anedotas e alienações. O livro em questão ajuda, mas não é finalidade em si mesmo.

Aproveito o ensejo para, nestas últimas linhas, expressar os votos de que esta seja uma obra conhecida e lida entre os cristãos. O livro permite um conhecimento aprofundado, apaixonado e, ao mesmo tempo, não romantizado de Jesus de Nazaré. Em momento algum desmerece a Sagrada Escritura, a Tradição, o Magistério ou quaisquer outras leituras cristológicas, como a famosa trilogia “Jesus de Nazaré” do então cardeal Ratzinger. Na verdade, uma leitura complementa a outra, não são antagônicas.

Uma última partilha: verdadeiramente, aquilo que li na obra do Pe. Pagola tocou meu coração e renovou a minha fé. Ademais, a leitura fez aproximar-me, não somente de Jesus histórico, mas da própria Igreja, ainda que, muito dentro dela, parece nos dar motivos para afastar-se dela. O fato é que, como afirma o próprio autor em determinado momento do livro: “Jesus representa aquilo que há de melhor apresentado pela Igreja à sociedade moderna de nossos dias”. E eu, caro leitor, acredito nisto.

Desejo-lhe uma boa leitura!

--- SUGESTÕES DE LEITURAS ---

DA SILVA, Airton José. Livro de Pagola sobre Jesus em português. Disponível em: https://airtonjo.com/blog1/2010/06/livro-de-pagola-sobre-jesus-em.html

MACHADO, Renato da Silva. Jesus: aproximação histórica. In: Revista Eletrônica Espaço Teológico. Vol. 5, n. 8, jul/dez, 2011, p. 137-139. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/8065/5938

PAGOLA, José Antonio. Jesus: aproximação histórica. (Tradução de Gentil Avelino Titton). 7. ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2014.

IHU. Vaticano processa o teólogo basco José Antonio Pagola. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/noticias/40969-vaticano-processa-o-teologo-basco-jose-antonio-pagola  

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