24º Domingo do Tempo Comum | Reflexão

 

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano A

Eclo 27,33-28,9 | Sl 102(103),1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8) | Rm 14,7-9 | Mt 18,21-35

 

Quem é que nunca precisou pedir ou dar o perdão? É sobre isto que a liturgia deste fim de semana trata; um assunto tanto quanto necessário para a vivência comunitária da fé cristã.

Na cultura veterotestamentária, havia a chamada “lei do talião” (cf. Lv 24, 19-20; Ex 21, 23-25; Dt 19, 21), que consistia, basicamente, na lei do “olho por olho e dente por dente”. Contudo, a leitura primeira do Eclesiástico já nos adverte que é necessário não guardar rancor, isto é, perdoar as injustiças cometidas contra nós. Trata-se de um baita avanço em favor da paz mundial, pois, se todos se perdoarem, ninguém mais briga, e tampouco guerreia. Embora seja uma atitude difícil para o povo, ainda é, logicamente, aceitável. Até porque, sendo um dos livros escriturísticos sapienciais, o Eclesiástico quer mostrar, na prática da vida, um caminho para ser feliz e sábio.

Todavia, era preciso um limite para perdoar; não poderiam as pessoas saírem por aí perdoando a todos e qualquer um. Nesse sentido, isto é, na busca de uma correta compreensão do perdão, o apóstolo Pedro, no evangelho, pergunta ao Senhor quantas vezes seria preciso perdoar o irmão: talvez seriam sete vezes? (cf. Mt 8, 21). Ora, em contexto histórico, no legalismo judaico, o máximo de perdão possível por uma falta pessoal cometida era de quatro vezes. Sendo assim, supondo o máximo de sete vezes, Pedro acredita estar sendo muito generoso, no entanto, é surpreendido pelo Mestre.

Na resposta de Jesus, 70 vezes 7 significa um não-limite, uma vez  que o número sete na escritura tem valor de perfeição e completude. Ora, se o pecado é presente constante na comunidade, é preciso que o perdão também o seja.

Meus irmãos, o perdão é tão divino que não pode ser regulado em nossa prática diária! A falta de perdão fere, diretamente, a vida familiar, a vida paroquial e também a vida empresarial.

Tudo isso fica claro pela parábola contada por Jesus, chamada de “parábola do devedor implacável”. Tudo nela é desproporcional: a dívida do empregado, a misericórdia do patrão, a violência do homem perdoado, a reação do patrão... Acontece que nós devemos dar o perdão porque o próprio Cristo, antes de tudo, é quem perdoa as nossas faltas. É o que cremos! É o que rezamos no pai-nosso! Afinal de contas, Jesus é o “bondoso, compassivo e carinhoso” que cantamos no salmo responsorial. Se aqui estamos, é por misericórdia divina.

O próprio Cristo, hoje, vem ao nosso encontro como o patrão e pergunta: eu te perdoei toda a tua dívida na cruz, não devias tu também ter compaixão do teu irmão? (cf. Mt 8, 32-33). A graça que habita em nós, filhos e filhas de Deus, deve ser maior que a concupiscência, que nos leva ao pecado.

Toda vez que nós, cristãos, não perdoamos, damos contratestemunho da fé que dizemos professar. Porque o perdão é gerado pelo amor; e “Deus é amor” (1Jo 4, 8). Construiremos a tão sonhada paz em nossas casas, nossas paróquias e nosso mundo, à medida que soubermos dar e pedir o perdão.

Há ainda quem diga que “perdoar tudo é o mesmo que ser bobo”, ou ainda que, “tem quem que não merece o nosso perdão”. Ora, a segunda leitura já adverte que, quer morramos, quer vivamos, pertencemos ao Senhor (cf. Rm 14, 8). Claramente, não perdoamos porque os outros merecem, mas, na maioria das vezes, porque eles precisam desse perdão. Precisam porque é a manifestação da misericórdia de Deus na concretude da vida; precisam porque nós amamos e perdoamos os irmãos por e para Deus. Nada além disto. Que o Senhor nos ajude, hoje e sempre!

Assim seja.

 

ORAÇÃO POÉTICA A PARTIR DO EVANGELHO:

Setenta vezes sete é perfeição

é persistência

é caminho para a vivência

da fé e da salvação.

Perdoar sempre é a nossa meta

de verdadeiros cristãos

assim como o próprio Cristo

perdoou a nossa dívida

e reconciliou-nos com o Pai

na cruz

perdoemo-nos uns aos outros

pela fonte

pela luz

que é o Mestre Jesus.

Interpela-nos, Senhor

a perdoar de coração

quem pecou contra ti

e contra mim

porque sei que ainda sim

ele é o meu irmão

que merece misericórdia, perdão e salvação.

 

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.


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