26º Domingo do Tempo Comum | Reflexão

 

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano A

Ez 18,25-28 | Sl 24,4bc-5.6-7.8-9 (R. 6a) | Fl 2,1-11 | Mt 21,28-32

 

O Evangelho deste fim de semana é apenas um trecho de um conjunto todo de parábolas que foi dividido, pela Igreja, de modo que será lido e meditado hoje, e nos dois domingos próximos. Sendo assim, o tema central é o mesmo: a contraposição entre aqueles que aceitaram o Reino de Jesus e aqueles que colocaram obstáculo, negando-o.

É importante notar que, na parábola contada por Jesus, o pai faz o mesmo pedido aos dois filhos: de irem trabalhar em sua vinha (cf. Mt 21, 28.30). Claramente, sabemos por analogia que o Pai é o próprio Deus e os filhos somos nós. Contudo, num exercício de identificação é preciso que localizemos qual dos dois filhos nós mais nos parecemos. Há um primeiro que diz não querer, mas vai (cf. Mt 21, 29); e um segundo que promete ir, mas não vai (cf. Mt 21, 30).

Vale ressaltar que o primeiro filho não disse que não iria, mas sim, que não queria ir. Tantas vezes em nossa vida de fé, de comunidade, de família ou de relacionamentos, não queremos fazer o que é certo. Acontece que, muitas vezes, é preciso superar o nosso simples “querer” a fim de fazer o “querer” de Deus em nossa existência.

É uma herança do Antigo Testamento a primazia da atitude em relação à palavra, isto é, de nada adianta “honrar Jesus com os lábios se o coração está longe dele” (cf. Mt 15, 8). Esta parábola mostra para nós, cristãos do século XXI, como é importante que nossas ações sejam concordantes com nossa pregação. Se assim não for, nossa Igreja continuará cada vez mais sendo desmoralizada, sobretudo pela mídia. Ou, em última instância, que deixemos mais as obras falarem por si só. É preciso tomar muito cuidado com os pregadores que muito falam, mas nada fazem daquilo que pregam: a isto, chamamos de hipocrisia. E ela, por sua vez, está presente em muitas religiões, em muitas famílias, em muitas relações humanas.

O fato é que o convite do pai é feito aos dois filhos de modo igualitário; mas cada um pôde dar a sua resposta individual. O mesmo é dito a nós: somos filhos amados de um só Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo, e nos chama para trabalhar em seu Reino de Amor. Qual é a nossa resposta?

Nesse sentido, a primeira leitura nos ajuda bastante a refletir. Ezequiel, o profeta da esperança, exerce seu ministério no contexto de um povo exilado que acreditava na somente na dimensão coletiva da fé, deixando de lado a relação individual com Deus. Em outras palavras, Israel considerava que Deus tinha feito a Aliança não com cada israelita individualmente, mas com toda a comunidade. Desse modo, as infidelidades de alguns, inclusive dos antepassados, traziam sofrimento e morte a toda a comunidade. A mesma lógica valia para a fidelidade.

Ora, a profecia de hoje é bem clara, nesse sentido: nós morremos porque praticamos o mal e a injustiça (cf. Ez 18, 26). Significa dizer que, a nossa salvação ou a nossa condenação está intimamente ligada com a resposta que damos ao Pai, dono da vinha: se, como o primeiro filho; se, como o segundo filho. Todos nós, homens e mulheres, somos responsáveis pelas nossas escolhas. Escolhas estas que acarretam suas devidas conseqüências. Assim, quando dizemos sim ao projeto de Deus, chegamos ao Reino dos céus (cf. Mt 21, 31); quando observamos o direito e a justiça conservamos a vida Eterna (cf. Ez 18, 28). A profecia de Ezequiel nos ensina a não colocar a culpa de nossa condenação nem de nossa salvação nos outros, mas tomar para nós aquilo que nos é dado por graça divina: a liberdade de escolha.

Por isso que Paulo, em sua carta à comunidade de Filipos, apresenta recomendações concretas para viverem os valores do Evangelho: harmonia, humildade, e unidade (cf. Fl 2, 2). O motivo para isto é sempre o mesmo: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2, 5). Viver tais virtudes é fazer como o primeiro filho, que mesmo diante do “não querer”, sabe que é o correto a se fazer. É, portanto, saber que as obras devem falar mais que as próprias palavras.

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos auxilie a viver, diariamente, este caminho de discernimento e liberdade, a fim de que sejamos sempre coerentes no modo de pensar, agir, rezar e falar.

Assim seja!

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Em um instante se silêncio, faça a seguinte oração:

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Senhor Deus, faze-me compreender

que não bastam palavras bonitas

ou declarações

recheadas de boas intenções;

mas que é preciso uma resposta adequada,

coerente aos desafios

e às tuas propostas;

que eu não terceirize minhas culpas

mas saiba generosamente amar

e entregar a minha vida

como resposta dada

à minha fé professada

e o aceite de vinha bem trabalhada. Amém.

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Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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