Solenidade de Todos os Santos | Reflexão

 

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS | Ano A

Ap 7,2-4.9-14 | Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6) | 1Jo 3,1-3 | Mt 5,1-12a

“Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação». Esta santidade da Igreja [...] exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo.” (LG, 39)

 

A Solenidade de “Todos os Santos” é sempre transferida do dia 1º de novembro para o domingo seguinte, exceto se o dia 1º já for o próprio domingo. Isto tem uma razão pastoral, ou seja, faz com que o maior número de fieis possa participar desta importante celebração. Posto isto, podemos adentrar numa breve reflexão acerta da liturgia de hoje.

Apocalipse é o livro das revelações. Muitos cristãos têm medo de ler este livro achando que se trata do fim do mundo, mas não é bem assim. Apocalipse é um livro de esperança: revela aquilo que nos espera do Reino Celeste Definitivo. Assim, duas coisas importantes há de se notar na primeira leitura de hoje: o número dos que serão salvos, isto é, 144.000; e quem são os que trajam a veste branca.

Sobre o número, não podemos interpretar esses números da literatura apocalíptica de modo literal, mas é puramente simbólico. Neste contexto, 144.000 é a multiplicação de 12 (número das tribos - AT) x 12 (número dos apóstolos - NT) x 1000 (número universal que representa multidão). Em outras palavras, significa que a Glória Celeste é para TODOS!

Sobre a veste branca, é claro que remete ao nosso batismo, contudo, esses mesmos batizados, isto é, os tais “vestidos com a vestes brancas” (Ap 7, 9), são os que passaram por tribulações a ponto de alvejarem suas vestes no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7, 14). Ora, refere-se aos mártires e todos aqueles que doam sua vida para Cristo.

Aqui está o fundamento da santidade: não basta sermos batizados, mas é preciso que façamos valer o nosso batismo mediante as labutas do dia a dia. E na concretude da vida que nos mostramos próximos ou distantes da santidade de vida. Não podemos, no entanto, romantizar o conceito de santidade. Não falamos aqui, apenas, de santos canonizados pela Igreja. Mas a santidade é a vocação universal de todos os cristãos!

Para isto, ou seja, para viver na santidade diária é que “somos chamados de filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3, 1). Ser santo é fazer valer a nossa filiação divina, porque somente Deus é o Santo dos Santos. Aprendemos a santidade é dele!

 O Evangelho é a oportunidade de aprender com o próprio Cristo. “Bem-aventurado” é sinônimo de feliz; e feliz é todo aquele que vive em Deus. Bem-aventurados somos nós quando formos pobres de espírito; quando oferecermos nossas aflições a Deus; quando formos mansos e humildes de coração; quando sentirmos fome e sede de justiça; quando formos misericordiosos, puros de coração, promotores da paz; e, principalmente, quando formos perseguidos por causa do Reino de Deus.

Enfim, o trecho do Evangelho de hoje é um verdadeiro caminho de santidade. Contudo, este caminho de bem-aventurança não será fácil se contarmos com as nossas próprias forças. Precisamos da graça do Espírito Santo!

Portanto, que o Espírito Santo nos ajude a entender e viver estas palavras hoje e sempre. Assim seja!

 

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

 

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A seguir, transcrevo, do volume IV da Liturgia das Horas, uma belíssima reflexão sobre a solenidade que celebramos. Vale muito a pena refletir e rezar:

 

Dos Sermões de São Bernardo, abade

 

(Sermo 2: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],364-368)        

(Séc.XII)

 

Apressemo-nos ao encontro dos irmãos que nos esperam

 

Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas, a eles que, segundo a promessa do Filho, o mesmo Pai celeste glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida nenhuma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo veemente.

 

Em primeiro lugar, o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o de gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas, às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exército dos mártires, ao grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos, enfim, à comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos. A assembleia dos primogênitos aguarda-nos e nós parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos.

 

Animemo-nos, enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos desejam. Apressemo-nos ao encontro dos que nos aguardam. Antecipemo-nos pelos votos do coração aos que nos esperam. Seja-nos um incentivo não só a companhia dos santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição nem de nenhum modo é perigosa a paixão pela glória deles.

O segundo desejo que brota em nós pela comemoração dos santos consiste em que Cristo, nossa vida, tal como a eles, também apareça a nós e nós juntamente com ele apareçamos na glória. Enquanto isto não sucede, nossa Cabeça não como é, mas como se fez por nós, se nos apresenta. Isto é, não coroada de glória, mas com os espinhos de nossos pecados. É uma vergonha fazer-se de membro regalado, sob uma cabeça coroada de espinhos. Por enquanto a púrpura não lhe é sinal de honra, mas de zombaria. Será sinal de honra quando Cristo vier e não mais se proclamará sua morte, e saberemos que nós estamos mortos com ele, e com ele escondida nossa vida. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela refulgirão os membros glorificados, quando transformar nosso corpo humilhado, configurando-o à glória da Cabeça, que é ele mesmo.

 

Com inteira e segura ambição cobicemos esta glória. Contudo para que nos seja lícito esperá-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos desejar com muito empenho a intercessão dos santos. Assim, aquilo que não podemos obter por nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão.

 

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