Celebrando o Natal do Senhor

 

Celebrando o Natal do Senhor


 
“Chegou o dia de ela dar à luz, e teve o seu Filho primogênito.” Lc 2, 7

 

Depois de todo um período de preparação, chamado Advento, finalmente chegamos ao Natal do Senhor, uma data bastante conhecida e festejada por muitos, porém, é vivido em sua essencialidade por poucos.

A palavra “Natal”, em português, deriva do termo latino: “nātālis”, que por sua vez, deriva do verbo “nāscor”, que significa nascer. É, portanto, celebrado o nascimento de Jesus Cristo para a Salvação do mundo. Todo o mistério gira em torno de um menino, que encarnado em nosso meio, é símbolo de humildade, sabedoria, tumultos, revoltas, mas, sobretudo, de redenção.

É confortante saber que o Messias esteve presente em nosso meio, pisando por essas terras, realizando milagres, perdoando e amando a todos. Deus é tão amoroso conosco que deu seu Filho único em justificação dos nossos pecados, porque se “o homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente” (Santo Agostinho).

Dizemos que Natal é luz; Natal é alegria; Natal é esperança. São afirmações otimistas e, talvez, um tanto quanto inapropriadas para se usar no findar deste ano de 2023. Apenas para pontuar, há guerras acontecendo ao redor do mundo, há parte da população brasileira desempregada, a taxa de suicídios aumenta a cada dia, os crimes, acidentes e tragédias estão acima da média; famílias, política e grupos estão divididos etc. Ademais, a desigualdade social continua expressiva: são famílias que não têm condições para comer o mínimo necessário, realidades sem saneamento básico, falta de acesso aos estudos básicos, bem como a precariedade de saúde pública.

Como poderemos cear em família, sendo que pode estar faltando algum membro que se foi nos últimos anos? Com tanta gente passando fome enquanto outros esbanjam alimentos? Ou com crianças, jovens, homens, mulheres e LGBT's sendo mortos simplesmente por serem como são? Perguntamos: Onde está a luz? Onde está a alegria? Onde está a esperança? Entretanto, todas estas questões nos remetem a uma questão ainda mais provocante: como nós, cristãos, devemos nos portar diante dessas situações?

Ora, é claro que não temos razão de celebrar o Natal depois de tanto dissabor ao longo do ano se o sentido estiver somente nas luzes, na alegria e no consumo que a sociedade apresenta. Acontece que a celebração natalina, na sua essencialidade, está intimamente ligada à Paixão de Cristo. Sim, celebramos a encarnação de Cristo, mas para uma finalidade: a nossa redenção, que por sua vez, se deu pela paixão, morte e Ressurreição. Trata-se de um mistério completo e amável: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu filho amado” (Jo 3, 16).

Já sabemos que as marcas da cruz permanecem no Ressuscitado, por isso, não esqueceremos as tristezas existentes no mundo e na vida cotidiana, mas, acima de tudo, é preciso que apresentemos estas chagas ao Senhor, de modo que sejamos renascidos com elas e por elas. Assim, se o Natal é nascimento do Menino-Deus, é o nosso renascimento também: como novas pessoas, novos cristãos, isto é, como verdadeiros filhos amados de Deus. É preciso, portanto, que tenhamos total consciência da nossa missão no mundo, de modo que, mediante as dores e labutas do Calvário, almejemos o valor da Ressurreição gloriosa, pois, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20).

Estejamos fieis ao Evangelho, abertos aos propósitos da santidade e propensos a dizer como Maria na anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim a vossa vontade” (Lc 1, 38). O Natal é certeza de que Deus não somente conduz a história da humanidade, mas também participa dela, caminhando ao nosso lado. Natal é vida, mesmo que seja a nossa vida: frágil, sofrida e dolorida; mas é vida que temos, ao mesmo tempo, que é uma vida renascida por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Neste Natal, espalhemos sorrisos, ofereçamos abraços, sejamos luzes, alegria e esperança para os outros, porque Cristo é luz, alegria e esperança por todos nós! Não busquemos fora o que está dentro, porque “o nosso coração tem um vazio do tamanho de Deus” (Santo Agostinho). Sejamos verdes de esperança como a árvore de natal. Sejamos cheios da Luz divina como o pisca-pisca. Sejamos reflexo de Jesus como o presépio. E dessa forma, certamente, viveremos o mistério natalino como bons cristãos.

Enfim, estar a disposição de um Deus que se faz próximo é reafirmar também o nosso compromisso de fazer-nos próximos aos irmãos necessitados. Natal é tempo de esvaziar-se de si mesmo, para encher-se de Deus através dos irmãos. Por isso, egoísmo e consumismo não devem existir em nossas comunidades.

Assim seja! 

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“O Natal do comércio chega de um dia para o outro. Fácil, tilintante confuso, pré-fabricado. É um Natal visual. Um amontoado de símbolos. Um ar do tempo. Dentro de nós, porém, sabemos que não é assim. Para ser verdade, o Natal não pode ser só isto. Não pode servir apenas para uma emoção social, para um rodopio de compensações, compras, trocas. Para ser verdade, o Natal tem de ser fundo, pessoal, despojado, interpelador, silencioso, solidário, espiritual. Acorda em nós, Senhor, o desejo de um Natal autêntico.” (“Não pode ser só isto” de Dom José Tolentino Mendonça. Do livro: “Um Deus que dança”, p. 57).

 

Um feliz e abençoado Natal a todos. Santo 2024!

 

Fraternalmente,

Luis Gustavo da Silva Joaquim.

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