Celebrando
o Natal do Senhor
Depois de todo um período de preparação, chamado Advento, finalmente
chegamos ao Natal do Senhor, uma data bastante conhecida e festejada por muitos,
porém, é vivido em sua essencialidade por poucos.
A palavra “Natal”, em português, deriva do termo latino: “nātālis”, que por sua vez, deriva do verbo “nāscor”, que significa nascer. É, portanto, celebrado o
nascimento de Jesus Cristo para a Salvação do mundo. Todo o mistério gira em
torno de um menino, que encarnado em nosso meio, é símbolo de humildade,
sabedoria, tumultos, revoltas, mas, sobretudo, de redenção.
É confortante saber que o Messias esteve presente em nosso meio, pisando
por essas terras, realizando milagres, perdoando e amando a todos. Deus é tão
amoroso conosco que deu seu Filho único em justificação dos nossos pecados,
porque se “o homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente” (Santo
Agostinho).
Dizemos que Natal é luz; Natal é alegria; Natal é esperança. São
afirmações otimistas e, talvez, um tanto quanto inapropriadas para se usar no
findar deste ano de 2023. Apenas para pontuar, há guerras acontecendo ao redor
do mundo, há parte da população brasileira desempregada, a taxa de suicídios
aumenta a cada dia, os crimes, acidentes e tragédias estão acima da média;
famílias, política e grupos estão divididos etc. Ademais, a desigualdade social
continua expressiva: são famílias que não têm condições para comer o mínimo
necessário, realidades sem saneamento básico, falta de acesso aos estudos
básicos, bem como a precariedade de saúde pública.
Como poderemos cear em família, sendo que pode estar faltando algum membro
que se foi nos últimos anos? Com tanta gente passando fome enquanto outros
esbanjam alimentos? Ou com crianças, jovens, homens, mulheres e LGBT's sendo
mortos simplesmente por serem como são? Perguntamos: Onde está a luz? Onde está
a alegria? Onde está a esperança? Entretanto, todas estas questões nos remetem
a uma questão ainda mais provocante: como nós, cristãos, devemos nos portar
diante dessas situações?
Ora, é claro que não temos razão de celebrar o Natal depois de tanto
dissabor ao longo do ano se o sentido estiver somente nas luzes, na alegria e
no consumo que a sociedade apresenta. Acontece que a celebração natalina, na
sua essencialidade, está intimamente ligada à Paixão de Cristo. Sim, celebramos
a encarnação de Cristo, mas para uma finalidade: a nossa redenção, que por sua
vez, se deu pela paixão, morte e Ressurreição. Trata-se de um mistério completo
e amável: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu filho amado” (Jo 3, 16).
Já sabemos que as marcas da cruz permanecem no Ressuscitado, por isso, não
esqueceremos as tristezas existentes no mundo e na vida cotidiana, mas, acima
de tudo, é preciso que apresentemos estas chagas ao Senhor, de modo que sejamos
renascidos com elas e por elas. Assim, se o Natal é nascimento do Menino-Deus,
é o nosso renascimento também: como novas pessoas, novos cristãos, isto é, como
verdadeiros filhos amados de Deus. É preciso, portanto, que tenhamos total
consciência da nossa missão no mundo, de modo que, mediante as dores e labutas
do Calvário, almejemos o valor da Ressurreição gloriosa, pois, “onde abundou o
pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20).
Estejamos fieis ao Evangelho, abertos aos propósitos da santidade e
propensos a dizer como Maria na anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor,
faça-se em mim a vossa vontade” (Lc 1, 38). O Natal é certeza de que Deus não
somente conduz a história da humanidade, mas também participa dela, caminhando
ao nosso lado. Natal é vida, mesmo que seja a nossa vida: frágil, sofrida e
dolorida; mas é vida que temos, ao mesmo tempo, que é uma vida renascida por
Cristo, com Cristo e em Cristo.
Neste Natal, espalhemos sorrisos, ofereçamos abraços, sejamos luzes,
alegria e esperança para os outros, porque Cristo é luz, alegria e esperança
por todos nós! Não busquemos fora o que está dentro, porque “o nosso coração
tem um vazio do tamanho de Deus” (Santo Agostinho). Sejamos verdes de esperança
como a árvore de natal. Sejamos cheios da Luz divina como o pisca-pisca.
Sejamos reflexo de Jesus como o presépio. E dessa forma, certamente, viveremos
o mistério natalino como bons cristãos.
Enfim, estar a disposição de um Deus que se faz próximo é reafirmar
também o nosso compromisso de fazer-nos próximos aos irmãos necessitados. Natal
é tempo de esvaziar-se de si mesmo, para encher-se de Deus através dos irmãos.
Por isso, egoísmo e consumismo não devem existir em nossas comunidades.
Assim seja!
***
“O Natal do comércio chega de um dia para o outro.
Fácil, tilintante confuso, pré-fabricado. É um Natal visual. Um amontoado de
símbolos. Um ar do tempo. Dentro de nós, porém, sabemos que não é assim. Para
ser verdade, o Natal não pode ser só isto. Não pode servir apenas para uma
emoção social, para um rodopio de compensações, compras, trocas. Para ser
verdade, o Natal tem de ser fundo, pessoal, despojado, interpelador,
silencioso, solidário, espiritual. Acorda em nós, Senhor, o desejo de um Natal
autêntico.” (“Não pode ser só isto” de
Dom José Tolentino Mendonça. Do livro: “Um Deus que dança”, p. 57).
Um
feliz e abençoado Natal a todos. Santo 2024!
Fraternalmente,
Luis Gustavo da Silva
Joaquim.
Comentários
Postar um comentário