Papa Francisco: “a Igreja é mulher”
No último dia 30 de novembro o Papa Francisco, na audiência
com os membros da Comissão Teológica Internacional, deixou de lado o seu discurso
escrito para falar, ainda que com dificuldades, espontaneamente.
Em uma de suas falas afirmou: “Se não entendermos o
que é uma mulher, o que é a teologia de uma mulher, nunca entenderemos o que é
a Igreja. Um dos grandes pecados que cometemos foi "masculinizar" a
Igreja.” Contudo, deixa claro também que “Isso não é resolvido pela via
ministerial; isso é outra coisa”, ou seja, ele não está falando de ordenar mulheres.
Deixemos a polêmica um pouco de lado de centremos o nosso foco ao que é
urgente: “A Igreja é mulher, a Igreja é noiva. E essa é uma tarefa que peço a
vocês, por favor. Desmasculinizem a Igreja”[1],
adverte o pontífice.
De fato, "Igreja" é um substantivo feminino. Maria
Santíssima é a imagem da Igreja e vice-versa. Não tem como afirmar outra coisa.
Em sua homilia na capela da casa de Santa Marta do dia 21 de maio de 2018,
Francisco reafirmou que a Igreja é mulher e mãe[2]. Os
próprios documentos conciliares atestam isto; e, de modo particular a Lumen Gentium (n.7) acrescenta: “Cristo
ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o
próprio corpo”. Contudo, por que ainda masculinizamos a Igreja? Obviamente é
reflexo de uma sociedade profundamente sexista, masculinizada e machista.
Ora, tantas mulheres, hoje, são as principais
responsáveis pela animação, articulação, coordenação e movimentação em nossas
comunidades paroquiais e para além delas. São as mulheres quem mais atuam nas
principais pastorais e movimentos que conhecemos. E a tendência é cada vez
mais aumentar esta atuação. Elas são, em nossas comunidades, fonte de
sensibilidade, escuta, carinho e doação.
Tanto é verdade que o Papa Francisco já deu passos significativos
para um caminho de encontro com as mulheres na Igreja, tanto que no ano de 2021
fez alterações canônicas a fim de permitir a instituição de mulheres aos
ministérios de acólito e leitor, além de oficializar também o ministério de catequista.
Já que o discurso foi diretamente à Comissão Teológica
Internacional, precisamos ainda problematizar no seguinte aspecto: qual a
porcentagem de mulheres que desenvolvem teologia na academia? O próprio
Francisco afirma a belíssima capacidade de reflexão teológica que têm as
mulheres! Não podemos mais fechar os olhos para isto.
Ao, constantemente dizer que “Nossa Senhora é mais importante
do que os Apóstolos!”, Francisco deseja para a Igreja uma “Teologia da Mulher”[3]: o
mesmo protagonismo paroquial deve ser o protagonismo teológico das mulheres,
afinal de contas, a mulher foi modelada pelo próprio Deus (cf. Gn 2, 22);
foi uma mulher a portadora do Deus encarnado (cf. Lc 1, 30); foi uma mulher a
primeira testemunha do Ressuscitado (cf. Jo 20, 11); é a mulher também que pisa
no dragão (cf. Ap 12, 1). Portanto, referências bíblicas não nos faltam.
Falta-nos é coragem de assumir a verdade como ela é.
Para finalizar, mais uma citação do pontífice na
referida audiência que muito impacta (ou deveria impactar) a vida dos
estudantes de teologia e teólogos: “E é essencial que vocês, teólogos, façam
isso em sintonia com o Povo de Deus, eu diria "de baixo para cima",
ou seja, com um olhar privilegiado para os pobres e os simples, e ao mesmo
tempo se colocando "de joelhos", porque a teologia nasce da adoração
a Deus.”
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
[1] Notícia disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-11/papa-audiencia-comissao-teologica-internacional-30-11-2023.html
[2] Homilia disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2018/documents/papa-francesco-cotidie_20180521_igreja-mulher-mae.html
[3] Entrevista do Papa Francisco no
voo de volta ao Vaticano. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/jornada-mundial-da-juventude/entrevista-do-papa-francisco-na-integra-brmknf6nrih681blsj07jysem/
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