2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA |
Ano B
Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18 | Sl
115(116B),10.15.16-17.18-19 (R. Sl 114,9) | Rm 8,31b-34 | Mc 9,2-10
Irmãos e irmãs, seguimos nossos
propósitos quaresmais neste ano do Senhor de 2024. Cada um de nós fez um tipo
de jejum, uma promessa ou algo do tipo para um caminho de conversão diário.
Acontece que já são duas semanas que a quaresma começou, e, muitas vezes já
vamos desanimando de tanto sacrifício, de tanta oração, de tanto jejum etc. Parece
que o impulso das motivações penitenciais da quarta-feira de cinzas vai se
apagando em nós...
Nesse sentido, a primeira leitura da
liturgia de hoje nos coloca diante de um pedido do próprio Deus a Abraão. Ele
pediu nada mais e nada menos que o sacrifício de seu filho único, Isaac. Abraão
é o homem de fé inabalável e que vive sempre na escuta de Deus; por isso aceita
os apelos do Senhor, ainda que este apelo te custe seu filho muito amado. Do
mesmo modo, nós precisamos nos manter firmes nos exercícios quaresmais, ainda
que isto nos custe muito; porque a fidelidade de Deus é sempre garantida a nós.
Tanto é verdade, que ele não deixou Isaac morrer, mas providenciou um carneiro
para ser sacrificado no lugar do filho. Fidelidade é sinal da benção de Deus: “uma
vez que agiste deste modo e não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei e
tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias
da praia do mar” (Gn 22, 16-17).
O mesmo aconteceu com Pedro, Tiago e
João: o Evangelho situa Jesus no fim do ministério, em Jerusalém, próximo de ir
sofrer a cruz. Como seus discursos já pendiam para esta dimensão final, os
discípulos tinham medo, estavam desanimados e descontentes. Era uma verdadeira
quaresma para os discípulos! Foi preciso, portanto, fazer uma experiência nova
para uma espécie de “injeção de ânimo”. Eis a cena da transfiguração.
Transfigurar é “mudar de figura”. Assim,
Jesus apresenta uma figura brilhante a fim de demonstrar a finalidade de todo
sofrimento, de toda provação, de toda prática quaresmal: a glória do Ressuscitado.
Ora, este Deus que cremos, comungamos e anunciamos diariamente (ou dominicalmente)
deve brilhar em nossa vida nesta quaresma. Sem ele, tudo o que fazemos se torna
vão. Mas com ele, tudo ganha o seu sentido. Esta passagem da transfiguração
está recheada de aspectos simbólicos:
·
O monte: é lugar
da revelação e do encontro com Deus. Foi no Monte Sinai que Deus faz uma
aliança com o seu povo através de Moisés, pelas tábuas da lei. Sejamos nós, pessoas que desejar, nesta
quaresma, subir ao monte para ter um verdadeiro encontro com o Senhor.
·
A nuvem: indica
a presença de Deus e recorda a nuvem que conduzia o povo no deserto em direção
à Terra Prometida (cf. Ex 40,34-35). Não queiramos viver o jejum ou caridade sem
a certeza de que somos conduzidos por Deus. Somente com ele temos forças de
atravessar desertos.
·
Moises e Elias:
são a representação das Leis e dos Profetas. Jesus é a concretização das leis
mosaicas e do profetismo veterotestamentário. Ele é plenitude! Ele é o centro
da nossa existência hoje e sempre.
·
A voz: é
semelhante ao batismo, porque este momento é também uma teofania, isto é, uma
profunda manifestação do Pai que ama seu Filho, por ação do Espírito Santo.
Mostra que não estamos só, mas vivemos num Deus-trindade, que é, portanto,
comunidade: “Vós todos sois irmãos e irmãs” (Mt 23, 8) é o lema da Campanha da
Fraternidade deste ano.
Contudo, irmãos e irmãs, uma coisa deve
nos levar a refletir neste tempo favorável: os discípulos (representados por
Pedro), vendo que tudo era muito bom e bonito, exclamaram "Mestre, é bom
ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra
para Elias" (Mc 9, 5). Não podemos cair na tentação de viver somente a
transfiguração. Verdadeiramente, quando experimentamos a glória do Ressuscitado,
não queremos provar o amargor do crucificado. Porém, é o mesmo Cristo; é o
mesmo Mistério Pascal. Só se compreende a cruz a partir da Ressurreição, porém,
só se tem Ressurreição depois da Cruz.
Quaresma é desfiguração! A vida é
desfigurada porque é laboriosa, cheia de dores, sofrimentos e provações. Jesus
ordena que desçam da montanha e não contem nada a ninguém. De modo análogo,
precisamos descer do nosso comodismo, da nossa idealização e aprender a
contemplar Cristo também nas angustias, nos desertos e nas provações.
Nunca nos esqueçamos da indagação de São
Paulo, na segunda leitura: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,
31b). Portanto, vivamos as desfigurações da vida, nesta quaresma, na certeza de
que, em Cristo, possamos um dia contemplar também a transfiguração definitiva
no Reino do Céu. Que assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
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