5º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano B
Jó 7,1-4.6-7 | Sl
146(147),1-2.3-4.5-6 (R. cf. 3a) | 1Cor 9,16-19.22-23 | Mc 1,29-39
Amados irmãos e irmãs no Senhor, a
liturgia de hoje propõe alguns questionamentos existenciais muito presentes em
nossos descontentamentos da vida. São perguntas do tipo: por que Deus permite o
mal? Onde está Deus nas situações desesperadoras da vida? Etc...
O mesmo vimos acontecer na primeira
leitura. Jó era um bom homem, que vivia de modo próspero com sua família. De
repente, é acometido por uma enfermidade, perde todos os bens e também a
família. Conhecemos esta famosa história. Muitos costumam dizer por aí sobre “a
fé de Jó” como um sinônimo de fé cega. Mas não. Em determinados momentos de seu
relato, Jó também questionou a Deus dos motivos para tanta desgraça acontecer
em sua vida. Ele dizia: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” (Jó
7, 1); “couberam-me noites de sofrimento” (Jó 7, 3); “Quando poderei
levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de
sofrimentos até ao anoitecer.” (Jó, 7, 4).
Portanto, as melhores orações são
aquelas sinceras que brotam do fundo do coração, mesmo que seja uma oração de
indignação para com Deus. Todavia, um tema importante que esta leitura nos
provoca é a tal da “teologia da retribuição”. Em nossa fé imatura, tantas
vezes, acreditamos ser merecedores de bens terrenos simplesmente porque
cumprimos alguns [e não todos] dos mandamentos de Deus. Os Israelitas daquela
época acreditavam nisso: para eles, a justiça divina era pautada na lógica, na
recompensa, na retribuição. Nós, cristãos católicos deste século, não podemos
mais pensar assim. O sofrimento de Jó nos ensina que, com Deus, enfrentamos
qualquer tempestade. O fato de sermos servidores do Evangelho não nos blinda
dos dissabores da vida. Em outras palavras, Deus não tem obrigação de retribuir
com prosperidade ou bens materiais a nossa observância de sua lei.
Vejamos, nesse sentido, o Evangelho.
Jesus, ao perceber a presença da sogra acamada de Pedro, na gratuidade, se aproxima,
segura sua mão e ajuda a levantar-se. Temos aqui três ações importantes de
Jesus.
Aproximar: é próprio de quem ama, de quem sente, de quem se
compadece da dor do outro; Segurar pela
mão: é gesto de quem partilha da própria vida, seja ela com alegrias ou
tristezas; Levantar-se: é a postura
do Ressuscitado, ou seja, representa vida nova em Cristo. Assim devemos agir
diante dos sofrimentos da vida: sempre com a presença de Deus que se aproxima,
nos segura pela mão e nos levanta para uma nova perspectiva de vida.
Todos esses milagres e curas se deram na
casa de Simão [Pedro]. Esta é uma referência simbólica da Igreja, já que a Pedro
serão confiadas as chaves. Portanto, o lugar do encontro e da cura é a
comunidade reunida. Não somos um aglomerado de ativistas, de pessoas idênticas
na forma de pensar, agir e vestir... mas somos uma comunidade de irmãos que
devem buscar viver o amor ao mesmo fundamento: JESUS CRISTO. Quando dispomos de
um tempo, ao menos no fim de semana, para permanecer com o Senhor na casa da
Pedro, isto é, na Igreja, somos agraciados com o toque de Jesus do mesmo modo
que a sogra de Pedro foi tocada e curada. Ainda que não percebamos ou não
reconheçamos nossa enfermidade, somente o Senhor sabe qual é e como pode curar.
Abramo-nos o coração!
É importante observar, na narrativa do
Evangelho, que após ser curada, a sogra de Simão [Pedro], se coloca a servir
Jesus (cf. Mc 1, 31). Trata-se da missão de todos nós que fomos encontrados, tocados
e erguidos por Jesus. Devemos nós, cristãos que pertencemos à casa da Pedro (Igreja),
os primeiros a dar bom testemunho do amor e da misericórdia de Deus. É neste
sentido que Paulo afirma na segunda leitura: “ai de mim se eu não pregar o
evangelho” (1Cor 9, 16). Pregar é com a vida!
Assim, retornando aos questionamentos
existenciais do início desta reflexão, percebemos que tanta gente sofre com as
maledicências do mundo não porque Deus se esqueceu delas (ou de nós), mas
porque somos nós mesmos quem deixamos de fazer o nosso papel de cristãos no
mundo. Tantas vezes recebemos a cura de Deus, mas não a transmitimos ao mundo a
fim de que outros também encontrem o caminho de Salvação. Que por esta liturgia
sejamos encontrados por Deus, mas acima de tudo, ajudemos outros irmãos e irmãs
a encontrarem-se com Deus e seu projeto de vida, amor e salvação. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
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