22º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano B
Dt 4,1-2.6-8 | Sl 14(15),2-3ab.3cd-4ab.5 (R. 1a) | Tg 1,17-18.21b-22.27 | Mc 7,1-8.14-15.21-23
Como sabemos, as leis são necessárias na
sociedade para que haja harmonia entre as pessoas. Há leis em vários âmbitos:
político, social, religioso etc. Tanto é verdade que, na primeira leitura,
Moisés convida o povo a acolher e pôr em prática as leis do Senhor, contudo, elas
devem ser meio e não fim da vida. Assim, no contexto do povo eleito de Israel,
Deus faz indicações de preceitos como um caminho amoroso para que o povo
permaneça no caminho correto, uma vez que foram libertados da terra da
escravidão.
Desse modo, o problema das leis é quando
elas se tornam absolutas, isto é, a famosa “lei pela lei”. É este o contexto em
que Jesus, questionado pelos fariseus acerca da conduta dos seus discípulos, ensina:
“o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai
do seu interior” (Mc 7, 15). Verdadeiramente, são as intenções do nosso coração
que diz quem realmente somos.
São os atos de cada dia que revelam a quem
seguimos. Em outras palavras mais poéticas, dizia Clarice Lispector: “atitude é
uma pequena coisa que faz uma grande diferença”. A fé cristã é pautada em
concretude, isto é, não basta escutar as leis, os preceitos, mas é preciso que
internalizemos a Palavra de Jesus, de modo que sejamos “praticantes e não meros
ouvintes” (Tg 1, 22). Não somos a religião da lei, mas a religião da Palavra.
Esta mesma Palavra que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14) para nos
trazer salvação.
Sendo, pois, concretude de vida, “a
verdadeira religião consiste em assistir os órfãos e as viúvas em suas
tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1, 27). Ora, parafraseando
o profeta, tantas vezes honramos o Senhor com os lábios, mas o nosso coração
está longe de Deus! A coerência de vida deve ser buscada constantemente por
nós, de modo que sejamos não como os fariseus e mestres da lei, mas como Jesus,
cujo crime maior foi amar. A lei de Deus é o amor!
Assim, o que Jesus condena, no
evangelho, é que os fariseus cumprem as regras, mas não amam; fazem por obrigação
e nada mais. Isto é um vazio interior que, tantas vezes, nós ainda hoje temos. Não
basta que conheçamos todos os ritos da missa, por exemplo, mas é necessário que
vivamos cada celebração de modo único, integral e consciente.
Na concepção judaica, o coração é o interior
do homem em sentido mais amplo, ou seja, é onde está a sede dos sentimentos,
dos desejos, dos pensamentos e das ações. É preciso que façamos as coisas,
portanto, “de coração”.
Basta que olhemos para a nossa história:
quem somos hoje e quem já fomos um dia. Todos nós somos pecadores que
necessitamos da graça e do perdão de Deus. Do mesmo modo, a lei pela lei é cega
e muitas vezes, injusta. Ora, “um erro na vida não significa uma vida de erros”
(Pe. Zezinho). Somente o amor misericordioso de Deus é capaz de nos acolher e
nos resgatar a fim de que nós também possamos acolher os irmãos e irmãs que necessitam
do nosso amor e dos nossos gestos vindos do coração, afinal de contas, “só se
vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” (Antoine de
Saint-Exupéry).
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
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