27º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano B
Gn 2,18-24 | Sl 127(128),1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5) | Hb 2,9-11 | Mc 10,2-12
A liturgia deste fim de semana nos
coloca diante de uma questão: para quê Deus criou os seres humanos? Ora, a
resposta só poder ser uma: viver o amor.
Amar e ser amado é o que Deus espera de nós, afinal de contas, “Deus é amor” (1Jo
4, 8).
Antes de tudo, é importante ter em mente
que a finalidade do livro dos Gênesis não é científica ou histórica, mas sim teológica.
Em outras palavras, não podemos tomar o texto ao pé da letra como verdade
absoluta, mas sim, compreender um mistério bem maior acerca da criação:
independentemente de como, mais vale saber quem foi o criador de
tudo; este, certamente, é Deus. Nesse sentido, a primeira leitura, cheia de
poesia, narra uma história da criação. Deus criou o homem e a mulher e
colocou-os um ao lado do outro para se amarem; e, para se compreender isto, é
necessário observar alguns detalhes da narrativa bíblica.
“Tirou-lhe uma das costelas...” (Gn 2,
21): significa que nenhum é maior que o outro. A mulher foi tirada do lado do
homem, isto é, não de baixo, para não lhe ser inferior; nem de cima, para não
lhe ser superior. Do lado porque ambos são iguais em dignidade. Ademais, no ato
da criação, Deus fez com que o homem caísse em sono profundo, o que significa
que a criação de Eva é obra misteriosa e exclusiva de Deus, sem qualquer
interferência do homem.
“E Adão exclamou: ‘Desta vez, sim, é
osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher porque foi
tirada do homem’” (Gn 2, 23): o termo “mulher” em hebraico é ‘ishah porque foi tirada do homem, que em
hebraico é ‘ish. A proximidade das
duas palavras sugere a proximidade entre o homem e a mulher, isto é, há uma igualdade
fundamental em dignidade, embora haja também uma complementaridade. Portanto,
de um modo simbólico e poético, a Sagrada Escritura quer mostrar a importância
de se viver o amor genuíno entre homem e mulher, e, consequentemente, entre
todas as pessoas.
A partir disso se dá o questionamento
dos fariseus a Jesus, no Evangelho. A lei permitindo o divórcio é atribuída a
Moises em Dt 24,1-4. Por isso que Jesus
é claro ao afirmar que foi por causa da dureza de coração do povo que isto se
deu, mas não por vontade divina. No tempo de Jesus, quando um homem decidia
abandonar a sua esposa, o que acontecia com certa frequência, a mulher ficava
em situação de muita vulnerabilidade. Assim, se ela não tivesse um documento que
comprovasse o desligamento a um homem, ela era considerada adúltera, e poderia
ser apedrejada, que era o castigo reservado às adúlteras (Dt 22, 22). O que
Moises fez, portanto, não foi concordar com o divórcio, mas prezar pela vida da
mulher, de modo que ela não fosse assassinada após ser deixada pelo marido.
Tratava-se de uma situação muito desfavorável para a mulher, haja vista a
concepção machista da época. Desse modo, Jesus reafirma o projeto original de
Deus: o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se complementarem,
para se ajudarem, para se amarem. Assim, ninguém é superior a ninguém, mas,
ambos são “uma só carne” (Gn 2, 24; Mc 10, 7).
Dito isto, podemos sintetizar o amor em
dois aspectos: 1) Amor é complementaridade: do mesmo jeito que não é bom
que o homem esteja só, podemos afirmar que, não é bom que a mulher esteja só. Ou
seja, um complementa o outro na vida matrimonial. Não significa que há algo que
falte em um ou outro, mas ambos, com suas qualidades e defeitos podem
contribuir para o crescimento mútuo. 2) Amor é construção: do mesmo modo
que o amor surge de uma hora pra outra, pode desaparecer. É preciso que se
construam juntos as atitudes que demonstram o amor um para com o outro. Afinal
de contas, no começo tudo é bom, mas é o tempo que revela as fragilidades de
uma vida a dois. Que estas duas características (complementaridade e construção
diária) nunca saiam da mente dos maridos e das esposas. Assim, certamente,
teremos famílias mais felizes, mais alicerçadas na Palavra de Deus e mais fieis
ao projeto de amor.
Portanto, Adão e Eva são o modelo da
humanidade que, por conta da desobediência foi ferida. Mas Cristo, ao assumir a
condição humana, se fez também família em Nazaré, junto de Maria e de José.
Assim, ele vem ao encontro de nossa frágil humanidade, livrando-nos da dureza
de coração, e devolvendo-nos a capacidade amar e ser amado.
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
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