28º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano B
Sb 7,7-11 |Sl 89(90),12-13.14-15.16-17 (R. cf. 14) | Hb 4,12-13 | Mc 10,17-30
A Palavra de Deus é viva, eficaz (Hb 4,
12). Isto significa que, quando acolhemos a Palavra que se fez carne (Jesus
Cristo), devemos ser transformados e renovados por ela. Em outras palavras, a
liturgia deste fim de semana quer nos fazer um convite a uma escolha
fundamental: as coisas passageiras ou as coisas eternas?
No evangelho de hoje, ao ser questionado
por uma pessoa sobre c caminho para a vida eterna, Jesus retoma a lista dos
mandamentos. Contudo, apenas conhecer os mandamentos é insuficiente, é preciso
praticá-los. Ele parece ainda mais rígido ao dizer que para a vida eterna é
necessário deixar os bens (primeira parte) e a família (segunda parte). Soou
algo estranho, sobretudo para a religião judaica, cuja riqueza era vista como
sinal de bênção divina. Tanto que a pessoa que perguntou saiu triste porque
possua muitos bens (Mc 10, 22).
Jesus, na verdade, questiona o nosso
modo de nos relacionar com as coisas e as pessoas; não, necessariamente, está
pedindo que abandonemos tudo e todos. Nesse sentido, há uma frase bastante
interessante do filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella que diz: “Sou
proprietário do que possuo ou estou sendo possuído pelo que possuo?”.
Também Santo Inácio de Loyola tem um
ensinamento bastante profundo sobre esse tipo de discernimento em seus
Exercícios Espirituais: “é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas
criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não
lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde
que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta,
e consequentemente em tudo o mais” (EE, 23). Em outras palavras, tanto faz o os
bens que temos; a questão é o quanto esses bens nos afastam ou nos distanciam
de Deus. A este exercício, Inácio chamou de santa indiferença.
Ora, Jesus não faz diferença de salvação
para rico ou para pobre, afinal de contas, “Deus não faz acepção de pessoas” (At
10, 34). Todavia, ele deixa claro que não há espaço para Deus, que é eterno, no
coração de quem é rico apenas de coisas passageiras, isto é, materiais.
Trata-se, do apego excessivo. Vejamos, na primeira leitura, a atitude do rei
Salomão que, diante de todo ouro e prata do mundo, orou a Deus pedindo
sabedoria. De fato, há coisas na vida que o dinheiro não compra, e a sabedoria
é uma delas; pois é um dom de Deus. Em nossa vida precisamos ter sempre um
correto discernimento para saber o que pedimos a Deus, pois, nem sempre o que
pedimos é o que precisamos.
A frase de Jesus: “É mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”
(Mc 10, 25) precisa ser compreendida em seu contexto histórico. A agulha era,
na verdade, uma pequena porta que havia no muro de Jerusalém, e, para um camelo
passar por ela, seria necessário que lhe tirassem todas suas bagagens e ainda
assim ele deveria se ajoelhar e ser empurrado. É preciso que nos desapeguemos
de bagagens desnecessárias para que sejamos empurrados para a porta eterna, que
é Jesus.
Ao utilizar-se dessa expressão Jesus
deixa claro que é sim muito difícil uma pessoa apegada a bens e pessoas chegar
à vida eterna, porém, que não é impossível, afinal de contas, “Para os homens
isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10, 27). A
exclamação de Pedro é, tantas vezes, a nossa exclamação: “Eis que nós deixamos
tudo e te seguimos” (Mc 10, 28). Para seguir a Cristo, precisamos sim deixar
tudo; tudo o que gera desunião, maldade e rancores. Escolhamos, sempre, as
coisas eternas!
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista
da Diocese de Jaboticabal/SP.
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