6º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano C
Jr 17,5-8 | Sl 1,1-2.3.4.6 (R.Sl 39,5a) | 1Cor
15,12.16-20 | Lc 6,17.20-26
Nos dias como os
nossos, está cada vez mais difícil ter confiança. É difícil confiar uns nos
outros, nos governos, nos líderes... enfim, é difícil saber em quem confiar.
Acontece que facilmente nos decepcionamos na vida. Mas o que nos consola é
saber que se nos decepcionamos com algo ou alguém a culpa está em nós mesmos,
porque colocamos demasiada esperança onde não deveríamos. A resposta para esse
questionamento existencial é trazida pela liturgia deste 6º Domingo do Tempo
Como (Ano C): “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o
Senhor” (Jr 17,7); “É feliz quem a Deus se confia!” (Sl 39,5a).
O profeta Jeremias nos
ensina, na primeira leitura, que, enquanto continuarmos gastando energia em
coisas passageiras, continuaremos também experimentando as decepções humanas.
Em outras palavras, estaremos desperdiçando a nossa existência na medida em que
nos apegarmos às coisas que passam. “Os céus e a terra passarão, mas as minhas
palavras jamais passarão” (Mt 24,35): somente quando colocamos a nossa
esperança em Deus, que é Eterno, teremos uma certeza dada pela fé: ainda que
todos no decepcionem nesta vida, Deus não nos decepcionará na vida futura.
Nesse sentido, o
caminho proposto por Jesus para que mantenhamos nossa esperança nele, é o
caminho das bem-aventuranças, no Evangelho. O Evangelho desta liturgia pertence
ao chamado “Sermão da Planície” (Lc 6,17-49), que corresponde ao “Sermão da
Montanha” de Mt 5–7. Contudo, há particularidades exclusivas de Lucas. Para ele,
os bem-aventurados são quatro: os pobres, os que têm fome, os que choram e os
que são perseguidos, ao passo que, para Mateus, são nove. Ademais, Lucas
apresenta, diferentemente de Mateus, as sentenças contrárias, chamadas de
“ais”, que podem ser considerados uma “mal-aventurança”.
“Bem-aventurados vós,
os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20): a palavra grega usada
por Lucas para indicar “os pobres” traduz o equivalente no hebraico, chamado “anawim” que, no Antigo Testamento,
define uma classe de pessoas privadas de bens materiais. No entanto, a palavra
não está relacionada somente à dimensão sociológica. Os “pobres” são também
aqueles que, privados de tudo, põem a sua confiança somente em Deus e se
entregam confiadamente. Portanto,
devemos nos fazer pobres, isto é, nos fazer merecedores somente de Deus e nada
mais! Somente ele nos basta (Santa Teresa de Jesus). É pobre quem se abandona
em Deus!
Quem se abandona em
Deus é bem-aventurado porque possui o Reino de Deus. Ora, esta expressão “Reino
de Deus” se refere a uma realidade totalmente nova e divina, que tem início já com
a encarnação de Jesus, pois “o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). Esta
realidade nova se prolonga na história até o fim dos tempos e tem sua plenitude
na eternidade. Na verdade, a pobreza enquanto abandono em Deus é conseqüência
de quem possui o Reino de Deus, e não o contrário.
O fato de serem bem-aventurados
os que têm fome, os que choram e os que são perseguidos, não significa que
devamos ser coniventes com as injustiças do mundo. Não é isto. Olhar para esses
flagelos e perceber que a consolação está em Deus, indica comprometimento de
nossa parte, enquanto cristãos. Ora, ainda que nosso olhar deva estar fixo em
Jesus, a nossa vida deve estar com os pés no chão. Ou seja, nossa esperança
está em Deus, que nos basta e nos consola, mas o nosso braço deve estar
estendido para o irmão, no aqui e no agora de nossa vida. Olhemos para a cruz:
há uma haste vertical, que nos leva para Deus, mas há uma haste horizontal, que
nos leva para o lado, para o irmão.
Se há gente que chora,
passa fome e é perseguido significa que não estamos cumprindo suficientemente o
nosso papel de discípulos e discípulas de Jesus Cristo. Que o Senhor nos ajude
a compreender nossa missão junto dos mais pobres e necessitados, a fim de que,
saibamos também a confiar somente em Deus e sua misericórdia.
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.
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