Santíssima Trindade | Reflexão

 

SANTÍSSIMA TRINDADE, Solenidade | Ano C

Pr 8,22-31 | Sl 8,4-5.6-7.8-9 (R. 2a) | Rm 5,1-5 | Jo 16,12-15

 

Amados irmãos e irmãs! Retornamos ao Tempo Comum na liturgia da Igreja. Terminado o ciclo pascal com a solenidade da semana passada, isto é, Pentecostes, reiniciamos outro ciclo que, por sua vez, se inicia celebrando o mistério central da nossa fé: a identidade do próprio Deus.

Todos nós, em algum momento da vida, passamos por alguma decepção. Mas isso aconteceu porque colocamos demasiada esperança em algo ou alguém que não deveríamos colocar. Somente Deus, que é Pai e Filho e Espírito Santo, pode ser a nossa esperança. Foi isso que ouvimos na segunda leitura: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5). Este é também o lema deste ano santo jubilar, instituído pelo Papa Francisco, e que nos dá a grande chave de leitura pra a Solenidade deste dia: a Santíssima Trindade.

Somos chamados a viver como filhos no Filho, conduzidos pelo Espírito, na confiança no Pai. A identidade de Deus, portanto, é Trindade: ele é um só Deus, em três pessoas. Sendo assim, hoje, não celebramos simplesmente um fato da vida de Jesus, mas sim a nossa profissão de fé. Cremos num Deus Uno e Trino. Ora, trata-se de um mistério e, por mais que tentemos, não conseguiremos esgotar o tema da Trindade. Assim, Deus-trindade é mistério, mas não é misterioso, porque ele mesmo quis se revelar pelos seus gestos e palavras: o Pai cria tudo, envia o seu Filho Jesus e, juntos, nos transmitem o Espírito Santo à Igreja. Este é o mistério do amor derramado em nossos corações! Cada pessoa da Trindade não fala de si mesmo, mas aponta para o outro.

Sendo assim, viver reunido numa comunidade verdadeiramente trinitária é sair do nosso egoísmo para saber valorizar o que há de bom e belo no outro. Vejamos como a nossa sociedade insiste em desprezar alguns e supervalorizar outros. Não! Nós que somos cristãos, que agimos em nome da Trindade Santa, devemos aprender a valorizar os dons uns dos outros.

Nós somos comunidade assim como Deus em si mesmo é uma comunidade. Deus não é solitário; Deus é Trindade! É comunidade de amor e de esperança. Quando traçamos sobre nós este sinal estamos recordando algo muito importante: “ninguém se salva sozinho” (Papa Francisco, 2020, Fratelli tutti, n. 54).

A primeira leitura, do livro dos Provérbios, nos apresenta uma figura poética da “Sabedoria” que estava com Deus desde o princípio, colaborando na criação. A Tradição cristã viu nessa Sabedoria uma imagem do Verbo, do Filho eterno, que estava com o Pai antes de tudo existir; mas também pode ser o Espírito Santo, dom de Deus. O fato é que esta leitura nos lembra que a Trindade não é uma realidade que começou com o Novo Testamento, mas uma comunhão eterna que já se manifesta na criação. Desde o princípio, Deus não age sozinho, mas em comunhão, ou seja, cremos num Deus que cria com amor e para o amor.

Deus sendo amor não vive para si, mas se doa; e quem ama comunica vida ao amado. Em suma, a Trindade é comunhão porque ela é amor! Quem vive na Trindade, vive no amor concreto: na família, cultivando o perdão e o diálogo; na comunidade paroquial, como irmãos e irmãs que se ajudam mutuamente; na sociedade atual, buscando a justiça, a paz e a solidariedade.

Por fim, ainda que nos faltem palavras para expressar e compreender a Santíssima Trindade, nos resta a fé e a capacidade de contemplação. Vale recordar uma citação do Papa Francisco no Angelus de 16 de junho de 2019: “A Trindade não é um enigma a ser resolvido, mas um mistério a ser contemplado. É o coração da fé cristã”. Portanto, se Deus é amor (1Jo 4,8), uma forma análoga de começar a entender a Trindade é esta: o Pai é quem ama, o Filho é o amado e o Espírito é o próprio amor que une os três. Sejamos, pois, pessoas de relação, comunhão e fraternidade.

Assim seja. Amém!

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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