19º Domingo do Tempo Comum | Reflexão

 

19º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano C

Sb 18,6-9 | Sl 32(33),1.12.18-19.20.22 (R. 12b) | Hb 11,1-2.8-19 | Lc 12,32-48

 

Queridos irmãos e irmãs, a palavra “coração” (em hebraico, lēb; em grego, kardia), no contexto bíblico, é mais do que um órgão físico ou o símbolo das emoções. Ela representa a sede mais profunda da nossa vontade, da nossa liberdade e da nossa capacidade de amar. O coração é o lugar onde Deus fala e onde o ser humano responde. É o santuário interior do homem, onde acontece o verdadeiro encontro com o Senhor. O próprio Concílio Vaticano II (1962–1965) afirma que “o homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus” (Gaudium et Spes, n. 16).

Nesse sentido, quando Jesus diz: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Lc 12,34), Ele está nos chamando a atenção para refletirmos sobre o que realmente guia nossos pensamentos, nossas escolhas, nossos desejos e toda a nossa vida. Este dito de Jesus é extremamente concreto. Em outras palavras, poderíamos nos questionar: Onde gasto meu tempo? Em que coloco minhas energias? O que me preocupa ao acordar e ao dormir?

Tantas vezes vivemos angustiados justamente porque nunca temos o suficiente daquilo que desejamos. E são esses desejos insaciáveis que nos tornam verdadeiros escravos. A sociedade em que vivemos quer, constantemente, nos tornar cativos de coisas que não precisamos — o que chamamos de cultura do consumismo, promovida, sobretudo, pelas redes sociais.

Essa mentalidade apresenta o consumo material como o caminho para a felicidade humana. Trata-se de uma valorização do ter, em detrimento do ser. Em resumo, a publicidade e os meios de comunicação criam necessidades artificiais, estimulando o desejo de consumir mais e mais, mesmo sem necessidade real.

É Jesus quem nos liberta dessas prisões, de modo que sejamos livres para amar e servir. Por isso, na primeira leitura, percebemos que foi justamente a experiência de libertação que alicerçou a identidade daquele grupo de escravos. Já não eram mais apenas escravos — sentiam-se povo de Deus, peregrino e livre. Cristo nos convida a construir nosso tesouro nos céus, e não em coisas que não nos preenchem.

Como afirmou, certa vez, São Francisco de Assis: “O homem vale o que é diante de Deus, e nada mais”. Ter a consciência livre de que somos filhos e filhas amados de Deus nos torna capazes de discernir o que, verdadeiramente, é um tesouro para nós. Afinal: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Lc 12,34). Isso significa que precisamos nos manter vigilantes o tempo todo, para que as coisas que não vêm de Deus não estejam no centro da nossa vida.

É nesse espírito que Jesus, no Evangelho, adverte: “Ficai preparados, com os rins cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). A fé que professamos nos move a viver em prontidão, sempre prontos para o Senhor que vem. Ele pode chegar a qualquer momento. A vida terrena é finita, nós sabemos. Por isso, o Evangelho termina com uma parábola sobre o administrador fiel. Somos servos, sim, mas também administradores da vida, do tempo, da família, da comunidade, do mundo. Ou seja, não podemos terceirizar a culpa quando nosso coração se corrompe por tesouros passageiros, pois todos nós somos administradores conscientes e capazes de escolher o que é melhor, aquilo que vem de Deus.

Hoje o Senhor nos convida a viver com o coração livre, confiante e fiel. Como Abraão, na segunda leitura, somos chamados a caminhar pela fé, mesmo sem ver o caminho todo. Como os servos fiéis, no Evangelho, somos chamados a manter nossas lâmpadas acesas, ou seja, a conservar viva a luz da fé, do amor e da fidelidade.

Portanto, Jesus nos lembra: onde estiver o nosso tesouro, ali também estará o nosso coração. Que nosso coração esteja nos Céus, nas coisas de Deus, pois esse é o nosso verdadeiro lar.

Assim seja. Amém!

 

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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