21º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano C
Is 66,18-21 | Sl
116(117),1.2 (R. Mc 16,15) | Hb 12,5-7.11-13 | Lc 13,22-30
Jesus continua sua
caminhada rumo a Jerusalém; e nós, discípulos seus, somos convidados a fazer
este mesmo trajeto na vida: um caminho sempre para a entrega, a doação, o
serviço e o amor até as últimas conseqüências. Neste caminho, que é tanto
existencial quanto geográfico, alguém questiona se “é verdade que poucos serão
salvos” (Lc 13,23). Ora, parece esta ainda a nossa preocupação. Tantas vezes
nos perguntamos “será que eu vou para o céu?”, ou pior ainda, quando julgamos
os outros, pensando: “será que fulano vai para o céu?”. Nesse contexto, a
resposta do Senhor é uma só: “Fazei todo esforço possível para entrar pela
porta estreita” (Lc 13,24). No fim das contas, ele não responde se serão salvos
poucos ou muitos, como foi feita a pergunta, mas responde que a salvação é
sempre possível para todos os que desejarem!
Mais do que nos
preocuparmos com a estatística de quem vai pro céu, o convite de Jesus é para
que olhemos nossa própria vida para um caminho de perseverança e fidelidade.
Por isso ele usa da imagem da porta estreita. Não significa que Deus está
dificultando e diminuindo a porta a cada dia, o contrário, somos nós quem, por
conta de nosso egoísmo e fechamento de coração, nos tornamos grandes demais
para passar por ela. A porta é uma só, permanece do mesmo tamanho, é Jesus (“Eu
sou a porta”, Jo 10,9).
Assim, a salvação é
para todos os que se dispuserem a passar pela porta que é Jesus, pois, a
primeira leitura garante que Deus reunirá pessoas de todas as nações, de todos
os povos e línguas, e fará deles um só povo. Portanto, o critério não é a
origem, a raça ou a cultura, mas a abertura do coração à graça de Deus.
Acontece que para nos tornarmos
pequenos, do “tamanho” necessário para atravessar a porta, o Senhor nos corrige
constantemente, assim como um pai educa o seu filho porque ama (Hb 12,6). Ora, Deus
nos corrige para que possamos crescer, e essa pedagogia divina pode ser
dolorosa, mas é sempre para o nosso bem, para que possamos produzir bons
frutos. Vivemos em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar a dor. Prega-se
muito o bem estar, a chamada ditadura do sorriso, onde todos precisam estar bem
o tempo todo. Mas a realidade não é assim. Os sofrimentos são inerentes à
condição humana e Deus, muitas vezes, usa deles para nos purificar e corrigir.
A bondade divina é tão grande que ele pode tirar um bem de algo ruim.
Mas não vejamos bem:
Deus não castiga ninguém! Esta ideia é totalmente ultrapassada na teologia
cristã católica. O que acontece é que, diante de algumas situações da vida,
somos corrigidos pelo Senhor e esta correção, por sua vez, comporta algumas
dores de poda. E nesse sentido, é preciso que haja um equilíbrio em nós, de
modo que saibamos lidar com as dores da vida, mas que não signifique criar
situações dolorosas. Em outras palavras, aceitar o sofrimento não significa
viver passivamente achando que tudo o que acontece é porque “Deus quer que seja
assim”. É necessário que saibamos discernir as correções que vem de Deus e as
situações que nós mesmos criamos e nos causam dor e sofrimento.
Jesus também adverte
contra a ilusão: “Comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas
praças” (Lc 13,26). Não é o porque conhecemos um pouquinho da Palavra de Deus
que estamos salvos, mas é a conversão interior e a constante fidelidade que
abrem a porta do Reino. Não basta dizer que pertencemos à Igreja; é preciso
viver como discípulos na prática do amor, da misericórdia e da justiça. Enfim,
não é porque somos cristãos que somos ilesos de correção divina. Lembremos
sempre: o Senhor nos ama como um pai que, às vezes, precisa corrigir o seu
filho.
Portanto, que possamos
viver de tal modo que, quando chegar o dia do Senhor, sejamos reconhecidos não
apenas como aqueles que ouviram falar de Jesus, mas como aqueles que viveram nele.
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.
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