EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ | Reflexão

 

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ, Festa | Ano C

Nm 21,4b-9 | Sl 77(78),1-2.34-35.36-37.38 (R. cf. 7c) | Fl 2,6-11 | Jo 3,13-17

 

Na semana passada Jesus nos alertava que o critério para o seguimento do Reino de Deus é renunciar a si mesmo, tomar a cruz, e ir atrás dele (cf. Lc 14,27). Eis um grande desafio: tomar a nossa cruz. Quando falamos de “cruz”, normalmente, entendemos com dor e sofrimento. No entanto, não celebramos a festa de um instrumento de tortura e morte, mas um sinal de nossa salvação. A cruz reflete a obediência amorosa e filial de Jesus até as últimas conseqüências. Em Cristo, o que era sinal de vergonha e condenação foi transformado em árvore de vida e salvação.

Por isso que na primeira leitura ouvimos o episódio da serpente de bronze: o povo, no deserto, murmurava contra Deus e contra Moisés, e a consequência de sua rebeldia foram as picadas mortais das serpentes. Mas Deus, em sua misericórdia, oferece um remédio de modo que, quem olhasse para a serpente de bronze, erguida no alto, viveria. Esse gesto já era um anúncio profético, isto é, uma prefiguração da cruz. Aquilo que parecia sinal de morte se tornava, pela fé e pela obediência, sinal de vida.

Deus é capaz de transformar a morte em vida; a dor em alegria; a doença em saúde. Na segunda leitura, São Paulo descreve um movimento de descida e subida em que Cristo, sendo Deus, se esvaziou, assumiu a condição de servo, foi obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou. Ora, o mistério da cruz é inseparável da obediência e do amor de Jesus! Quando enxergamos a vida desse modo, ou seja, do modo de Jesus, somos capazes de compreender também as nossas cruzes diárias. Afinal de contas, cada cruz que carregamos, unida à cruz de Cristo, pode se tornar fonte de vida nova.

Diante da cruz, não cabem apenas lágrimas de dor, mas também um olhar de fé. É nela que descobrimos que Deus não nos abandona, mas caminha conosco, assumindo até o que temos de mais frágil. Por isso a cruz é exaltada, porque é nela que o amor venceu.

A resposta de Jesus a Nicodemos, no Evangelho, é clara: “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Teologicamente, esse versículo também mostra que a salvação não é uma realidade futura apenas, mas já presente: quando alguém encontra Cristo, encontra vida, esperança e recomeço. Não se trata apenas de “ser salvo do inferno”, mas de ser salvo do egoísmo, da violência, da solidão, daquilo que nos desumaniza. A salvação é hoje e agora! Deus ama o mundo e não quer condená-lo. Isto é muito importante para nossa compreensão.

Nos seus Tratados sobre o Evangelho de João, Santo Agostinho volta várias vezes ao versículo de Jo 3,17 e observa que “quem não crê já está condenado” (v. 18). Ora, a condenação não vem de Deus, e sim da escolha do homem: “Deus não enviou o Filho para condenar, mas para salvar; mas quem recusa ser salvo, condena a si mesmo” (Santo Agostinho); portanto, a salvação trazida por Jesus na cruz é graça e liberdade, isto é, ele se oferta inteiramente para todos, mas sua eficácia depende da adesão de cada um.

Uma vez que devolvemos à cruz o seu real sentido, isto é, de salvação e vida nova, podemos compreender o que de fato significa exaltá-la: os crucificados de hoje são os pobres, os marginalizados, o angustiados e tantos deixados de lado pela sociedade. Estes, crucificados, precisam ser exaltados em sua dignidade humana. Sejamos nós, homens e mulheres, capazes de enxergar Deus nas cruzes e nos crucificados do dia a dia. “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Gl 6,14).

Assim seja. Amém!

 

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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