SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E
JOSÉ, Festa | Ano A
Eclo 3,3-7.14-17ª | Sl 127(128),1-2.3.4-5 (R. cf.1)
| Cl 3,12-21 | Mt 2,13-15.19-23
Amados irmãos e irmãs, tendo
nascido o Menino-Deus na gruta de Belém, forma-se a Sagrada Família de Nazaré,
festa litúrgica que celebramos neste fim de semana. Trata-se de um convite
muito importante para todos nós, pois, celebrar a festa da Sagrada Família não
é contemplar um ideal distante e perfeito, mas entrar no mistério de Deus que
escolheu salvar o mundo: numa família concreta, marcada por desafios,
deslocamentos, medo e fé obediente. Assim, a família não é apenas uma
instituição natural ou cultural, mas um lugar teológico, onde Deus age, fala e
salva.
O Evangelho nos afasta
de qualquer imagem romântica da família de Nazaré. José, Maria e Jesus são
refugiados, isto é, fogem da violência do poder político. José é apresentado
como homem justo: sua justiça é obediência concreta à Palavra de Deus. Ele
protege a vida ameaçada, mesmo sem garantias. A Sagrada Família vive o exílio,
a insegurança, o recomeço em Nazaré. Aqui se cumpre a lógica de Deus: a
salvação brota da margem!
Este trecho do
Evangelho nos revela que Deus não salva afastando-nos da história, mas fazendo-se
um de nós. A família de Jesus experimenta o medo, a perda da terra, a
reconstrução da vida. Isso faz da Sagrada Família uma companheira real de todas
as famílias que sofrem hoje: migrantes, desempregados, famílias feridas pela
violência, pela pobreza ou pela instabilidade. Portanto, três coisas podemos
aprender com a Família de Nazaré: 1) nossa família não é perfeita, mas é
habitada por Deus; 2) nossa família não está isenta de sofrimento, mas pode ser
lugar de esperança; 3) nossa família não pode viver fechada em si mesma, mas estar
aberta à missão.
Ora, na primeira
leitura, o livro do Eclesiástico parte da experiência humana mais básica: a
relação entre pais e filhos. Honrar pai e mãe é reconhecer neles os mediadores
da vida, e por isso, a família é o primeiro espaço onde se aprende a lógica da
gratuidade.
O verbo bíblico
“honrar” (do hebraico “kabôd”, que significa “valor”) indica atribuir dignidade,
dar importância. Não se trata apenas de obedecer enquanto se é criança, mas de
assumir responsabilidade quando os papéis se invertem. Por isso o texto insiste
no cuidado dos pais na velhice.
Vivemos numa cultura
que valoriza o desempenho, a juventude, a autonomia. O Eclesiástico afirma o
contrário: a vida humana vale em todas as suas etapas, inclusive quando ela
precisa ser sustentada por outros. A gratuidade vivida na família,
especialmente no cuidado dos idosos, torna-se um sinal de resistência
evangélica contra a cultura do descarte.
Recordamos sempre o que
dizia Santa Teresa de Calcutá: “o amor começa em casa”. Desse modo, quando o
amor começa em casa, ele não termina ali. Ao contrário, ele se expande. Quem
aprende a amar no pequeno torna-se capaz de amar no grande. A casa é o
laboratório da misericórdia, onde se aprende a escutar, a respeitar, a servir.
Uma sociedade ferida nasce, muitas vezes, de casas feridas; uma sociedade
reconciliada começa em lares onde o perdão é possível.
Irmãos e irmãs, cada
lar, hoje, pode se tornar uma verdadeira Nazaré: quando a Palavra é escutada, o
perdão é praticado e a vida é defendida. Que o Senhor nos ajude fazendo que
essas palavras entrem no nosso coração e transformem a nossa vida.
Assim seja. Amém!
Luis Gustavo da Silva Joaquim
Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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