PARTE I - PENSAR NUMA VIDA A DOIS

 

CATEQUESE MATRIMONIAL

(curso de noivos)

Luis Gustavo da Silva

 

“Disse então o homem: Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”

(Gn 2, 23-24)

 

 

PARTE I: PENSAR NUMA VIDA A DOIS

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1.   Introdução: o casamento hoje em dia

Vivemos a pós-modernidade líquida, sugerida pelo filósofo polonês, chamado Zygmunt Bauman, onde nada é feito para durar. Assim, os casamentos rapidamente são desfeitos por quaisquer motivos. Queridos noivos e noivas, o casamento não pode ser como um jogo na loteria em que se aposta com a mentalidade “se não der certo, a gente separa”. Não! Casamento é coisa séria.

Ademais, a celebração do casamento não pode resumir-se a fotos, vídeos, status social ou quaisquer idéias semelhantes, mas sim o sinal visível de um amor profundo e enraizado na Palavra de Deus.

O namoro foi feito para terminar. Isto é um fato. Acontece que, ora termina para evoluir para um casamento de fato, e ora termina porque não deu certo. O tempo do namoro, portanto, é um tempo necessário e oportuno de autoconhecimento e conhecimento do outro, concomitante. Todavia, independente de qual passo tomar, é preciso muito diálogo, oração e discernimento.

Aliás, a oração é primordial ao longo de toda a vida do cristão. Ora, temos tempo para falar de tudo e de todos, menos de Deus e com Deus. Pensemos nisto...

 

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Desse modo, este itinerário de Catequese Matrimonial tem como finalidade retirar da consciência contemporânea a ideia errônea de que o chamado “curso de noivos” seja meramente um “mal-necessário” para se casar-se na Igreja.

Ora, normalmente, faz-se o “curso de noivos” com a data do casamento já marcada. Mas nem sempre deve ser esta a ordem: se este itinerário catequético fizer uma ou ambas as partes tomarem reta consciência de que não é o momento certo para casar-se, que sejam sinceros com Deus e consigo mesmos, ignorando quaisquer julgamentos e preconceitos de terceiros. Sejamos verdadeiros, acima de tudo, para viver com paz no coração e não amargurado e sofrendo o resto da vida, pois, vocação acertada é sinal de vida feliz.

 

2.   Amou-os até o fim (cf. Jo 13, 1-15)

Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos (e nós somos os discípulos de hoje) a amar. Este foi o seu principal mandamento: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34). Ora, Nosso Senhor foi claro no parâmetro com que devemos amar: como ele nos amou. E, portanto, tendo amado os seus, amou-os até o fim (cf. Jo 13, 1).

Pronto! Esta é a medida: amar até o fim; até as últimas conseqüências, até a morte! Estas palavras doem, incomodam e nos colocam em crise, justamente porque não suportamos sofrer, renunciar e perdoar. E acreditem, para amar, é preciso sofrer, renunciar e perdoar.

Para isto, algumas questões se fazem necessárias:

Noivos e noivas, vocês estão preparados para renunciar alguns desejos e vontades a fim de assumir um compromisso de fidelidade até a morte com seu companheiro ou companheira?

Noivos e noivas, vocês estão preparados para estabelecer limites em um diálogo sadio, sincero e constante sobre seus sentimentos, emoções e gostos a fim de aumentar entre si a confiança e evitar discussões desnecessárias?

Portanto, a partir desses questionamentos, dessas crises, e até mesmo das dificuldades ao longo da vida matrimonial é que vocês encontrarão, juntos, a perfeição, que é o próprio Deus. Afinal de contas, “caiu a chuva, vieram as enchentes, soprou o vento sobre aquela casa e não a derrubou, porque fora edificada sobre a rocha.” (Mt 7, 25). Construam vossas casas na rocha, que é Cristo.

Que Deus os ajude!

 

Sugestão de dinâmica: ouvir e refletir a canção do Padre Zezinho “O amor é a resposta”.

Link no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=rEmtSr0Ny8A

 

3.   “Adão, onde estás?” (Gn 3, 9): Onde está o nosso coração?

 

O nome hebraico Adão significa "homem da terra". Por isso, na Bíblia, Adão representa toda a humanidade, isto é, somos todos nós, homens e mulheres, seres viventes na Terra e da terra, porque viemos do barro. Somos frágeis, pecadores e miseráveis. Por isso mesmo que somos necessitados, hoje e sempre, da misericórdia divina.

Relata-nos o livro do Gênesis que Deus criou o mundo e todos seus seres, e colocou o primeiro homem e mulher (Adão e Eva) no Jardim do Éden, isto é, no paraíso. Contudo, para que haja total liberdade de filhos, Deus permite-lhes um dom precioso e que temos até hoje: o livre-arbítrio. Nesse sentido, a eles foi orientado por Deus comer e desfrutar de todas as árvores, exceto uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal. E assim aconteceu. Parece que nos é mais apetitoso aquilo que é proibido. Algo interessante a se questionar: o que mais nos motiva, se não a privação?

Os primeiros seres viventes, cedendo à desobediência, e, tomando consciência do seu ato, sentiram vergonha e se esconderam do Senhor. Mas a graça de Deus é maior que nossa limitação. Prova disso é que mesmo assim Deus se aproxima deles e pergunta: “Adão, onde estás?”. A pergunta que Deus faz a Adão é muito mais profunda do que parece.

"Adão, onde estás?". Poderíamos pensar numa questão geográfica, e, no entanto, a proposta espiritual para esta pergunta excede a quaisquer informações regionais ou geográficas. A grande chave de leitura aqui, se refere ao coração. Onde está o nosso coração? Será que está em Deus? É por isso que o criador sempre pergunta a nós, criaturas: onde estamos? Onde está o nosso coração? Hoje, de modo especialíssimo, o Senhor pergunta a vocês, noivos e noivas: onde está o seu coração?

Todos nós devemos estar atentos a esta pergunta que o Senhor faz constantemente: “Onde estás?”. Precisamos parar de vez em quando para refletir: para onde estamos indo? O que é tudo isso que acontece em nossas vidas? Sobre todo o nosso trabalho, nossa relação familiar, nosso modo de tratar a os outros, etc., nosso estudo, nossa comunidade... Enfim, onde reside o significado por trás de tudo o que vivemos, fazemos e falamos?

Adão, contudo, respondeu: “eu estava com medo, Senhor”. Que não tenhamos medo de Deus, mas encontremos nele a misericórdia; que possamos conduzir nossas vidas de modo que não precisemos temer a voz do Senhor, pois trata-se da voz de um Pai que ama e quer dialogar conosco, mesmo quando estamos em pecado, em desunião ou desobediência. É no reconhecer-se pecador, que nos encontramos com o sagrado. É no diálogo de um Deus que ama com o filho arrependido que mora a reconciliação e a paz tanto desejada por nós.

Sendo assim, que fique grifado que, o intermédio desta relação é o reconhecer-se, isto é, o reconhecimento humano que vai de encontro com o abaixamento misericordioso de Deus. Afinal, diz São Gregório de Nazianzeno, “só é redimido o que for, antes, assumido”.

Tenhamos a coragem de perguntar e assumir para nós mesmos, em nossas relações conjugais: onde estamos? Onde está o nosso coração?

 

4.   A serpente da fofoca

Do mesmo modo que a serpente (figura do maligno na Escritura) atraiu o primeiro homem e a primeira mulher no paraíso, ainda existem “serpentes” presentes na vida matrimonial. Uma delas que podemos citar é a serpente da fofoca. Pior ainda, há momentos em que as fofocas são nutridas dentro do próprio ambiente familiar, isto é, vem das pessoas próximas e chega a causar divisão. Ademais, a divisão é diabólica.

Podemos afirmar que não há antídotos que tornam o casal blindados da má fama, das injúrias, das mentiras e das fofocas, no entanto, a superação deste mal está no modo como o casal vive mediante as fofocas, mentiras, injúrias e má fama. Em outras palavras, o casal será feliz a partir do momento em que forem tão unidos, que não mais darão ouvidos para o que vier do maligno.

Queridos noivos e noivas, não deixem a serpente da discórdia entrar na casa de vocês por meio da língua de pessoas pobres de espírito! Saibam neutralizar este veneno da fofoca vivendo justamente o oposto: a unidade, o companheirismo, a sinceridade e a confiança.

 

5.   A serpente da internet

Hoje em dia os adultérios não precisam ser, necessariamente, físicos ou presenciais. Temos a forte influência de um meio chamado internet. Ora, não podemos condenar o espaço cibernético ao inferno, todavia, é preciso que saibamos que se trata de uma ferramenta, isto é, tudo depende da forma como utilizamos: podemos usar para o bem ou para o mal; para nos santificar ou para nos condenar.

Aqui entra a importância de consciência no uso de redes sociais e afins, pois pode ser uma serpente para o casal, ou seja, um gatilho para discussões e separações. É preciso, portanto, recordar sempre a pergunta feita por Jesus aos seus discípulos: o que vocês estão procurando? (cf. Jo 1, 28).

Quando acessamos a internet, o que procuramos? Onde está o nosso olhar? Onde está a nossa mente? Queridos noivos e noivas, é preciso o uso cibernético consciente e sincero, para que o relacionamento seja pautado na confiança, sempre!


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