6º Domingo da Páscoa | Reflexão

 

6º DOMINGO DA PÁSCOA | Ano B

At 10,25-26.34-35.44-48 | Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4 (R. cf. 2b) | 1Jo 4,7-10 | Jo 15,9-17

Sugestão de refrão orante para mediar esta liturgia: “Deus é amor”, de Taizé.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=EhJesRdCXd4

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Quem é Deus? Já paramos para nos questionar sobre isto?!

Se queremos uma resposta simples e, ao mesmo tempo, profunda, olhemos a segunda leitura da liturgia de hoje. A definição joanina é de que Deus é amor (1Jo 4, 8). Agora, é preciso que compreendamos a profundidade desse amor. Ora, se podemos “definir” Deus como amor, esse amor não pode ser, e de fato não é, um mero sentimento.

Acontece que a sociedade tal e qual vivemos acabou por banalizar o significado do AMOR. Os filmes, novelas e séries têm cada vez mais reduzido o conceito de amor por puro prazer sexual. Amor é maior que isso! Não estamos aqui querendo condenar ao inferno todos que assistem filmes, séries e novelas. Mas nós, cristãos e cristãs, precisamos compreender que nada disso deve influenciar o nosso modo de ser no mundo, porque nosso modelo é e sempre será Jesus Cristo. Aliás, no evangelho, Jesus continua o seu discurso de despedida, que iniciamos na liturgia da semana passada. Ao chamar os discípulos de amigos, ordena o seu mandamento fundamental: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12). Eis o critério para amar: como o próprio Cristo nos amou, isto é, até o fim. Amou sempre. Amou sem condições.

Pensemos nisto: como é difícil amar sem condições? Como é difícil amar sempre? Nós colocamos muitos obstáculos quando o assunto é amar os outros, os diferentes, os marginalizados, os que nos feriram etc... São Paulo nos recorda ainda que “se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine [...] o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13, 1.7).

Permanecer nesse amor. Já foi um assunto bastante tratado no domingo passado. A permanência é a condição para gerar bons frutos. E a permanência se dá na vivencia do amor fraterno. Sano Agostinho nos dizia: “Ame e faze tudo o que queres”. Quem ama não faz o mal, não prejudica, não maltrata.

Certa vez, perguntaram a uma antropóloga chamada Margaret Mead qual seria o primeiro sinal de civilização em uma cultura. O mais impressionante é que, em vez dela citar potes de barro, ferramentas para caça ou artefatos religiosos, a sua resposta foi: um fêmur fraturado de 15.000 anos encontrado em um sítio arqueológico. Ora, o fêmur é o osso mais longo do corpo, que liga o quadril ao joelho. Numa realidade sem a medicina moderna, levava meses de descanso para a cicatrização de uma fratura no fêmur. Este osso em particular foi quebrado e curado. Isso significa que o sinal de civilização é o amor e cuidado de um para com o outro. A pessoa com o fêmur fraturado, certamente, contou com a ajuda de outro que lhe oferecesse alimento, cuidado e proteção. Portanto, o amor fraterno é sinal de civilização. Quando não vivemos a concretude do amor, somos desumanizados; desfigurados, isto é, perdemos aquilo que temos de mais próprio.

Pedro, na primeira leitura, afirma que “Deus não faz distinção entre as pessoas” (At 10, 34). O problema é que nós, muitas vezes fazemos sim. Isso não é amar. Isso é usar as pessoas como objetos: um grande pecado social que o Papa Francisco chama de “cultura do descarte”. Tantas vezes mantemos relações por meras conveniências. No entanto, Jesus é capaz de chamar os seus discípulos (e, consequentemente, nós também) de amigos: “Chamo-vos amigos” (Jo 15, 15). Isso significa que não há uma relação de servo e senhor, mas de amigos. Ele quer ser nosso amigo no sentido mais puro da palavra. A amizade social, que a Campanha da Fraternidade nos convida a viver é reconhecer essa fraternidade universal; sem distinção de pessoas.

Nós devemos amar os outros porque antes, Cristo nos amou. Mas não nos iludamos! Ele nos ama não porque merecemos, mas porque precisamos do seu amor infinito. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Somos, meus irmãos, escolhidos por Deus para estarmos aqui hoje. Amar é escolha de atitude. Escolhamos, pois, amar de verdade.

Contra o ódio, somente o amor é a força capaz de curar o mundo enfermo. Amém.

           

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista da Diocese de Jaboticabal/SP.

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