Ascensão de Jesus, Solenidade | Reflexão

 

Ascensão do Senhor, Solenidade | Ano B

At 1,1-11 | Sl 46(47),2-3.6-7.8-9 (R. 6) | Ef 1,17-23 | Mc 16,15-20

 

“A ascensão de Cristo ao céu significa a sua participação, em sua humanidade, no poder e autoridade de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, n. 668)

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Hoje celebramos um precioso dogma católico: a ascensão de Jesus aos Céus. Trata-se de uma solenidade que remonta meados do século IV na Igreja. Na primeira leitura, ouvimos o relato da igreja primitiva acerca de tal fato. Foi em Jerusalém (quarenta dias depois de sua ressurreição), no alto do Monte das Oliveiras, que Jesus se despede dos discípulos, após uma refeição com eles. Aqui, fica explicita a dimensão comensal da revelação divina, uma perfeita alusão à eucaristia.

Assim, ele é elevado ao céu, à vista dos discípulos até ser encoberto por uma nuvem. Ora, é preciso salientar que não trata de uma leitura literal, mas sim teológica. Jesus não descola da terra e começa a elevar-se em direção ao céu como um foguete; antes, a ascensão é uma forma de expressar simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões supraterrenas. Ele, verdadeiramente, retorna para a glória da comunhão com o Pai.

Desse modo, quando Jesus sobe aos Céus e retoma o seu lugar “à direita de Deus Pai todo-poderoso”, ele leva consigo a nossa humanidade. Olhem que grande maravilha: o mesmo Deus que se rebaixa (kenósis) para assumir nossa frágil humanidade é o Deus que ascende aos Céus levando consigo esta mesma humanidade e nos tornando filhos amados.

Contudo, meus irmãos, há algo de muito interessante no fim da primeira leitura, quando os apóstolos, admirados, fixam seu olhar para os Céus depois que Jesus já havia desaparecido. Apareceram dois homens vestidos de branco, dizendo: "Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu" (At 1, 11).

Já não podemos mais ficar de braços cruzados olhando para o céu esperando os milagres acontecerem em nossa vida de modo passivo. Deus nos ama e faz sua parte, mas conta também com o esforço humano. Diz o filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella que “a única coisa que cai do céu é chuva”. Isto muito tem a ver com a liturgia desta solenidade. Embora o mestre tenha tomado de volta o seu lugar no reino celeste, ele nos ensina que precisamos manter os olhos fixos nele, mas os pés firmes nesta terra, no aqui e agora da nossa existência.

É nesse sentido que somos advertidos no evangelho. Antes de subir aos Céus e sentar à direta do Pai, Jesus deixa a missão fundamental da Igreja e nossa, enquanto membros dela: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16, 15). Ele sobe para nos mostrar o caminho ao Pai, porém, nós que aqui ficamos, é aqui que devemos viver a nossa vocação de batizados. A missão é, pois, universal, “...pelo mundo inteiro...” e não somente aos cristãos ou ao grupinho que fazemos parte; mas para todos! Esta missão, além de universal, tem um objeto próprio de anuncio que é o Evangelho, “... anunciai o Evangelho...”, isto é, não devemos anunciar a nossa palavra, o nosso achismo ou a nossa doutrina pessoal, mas somente a Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo. Enfim, os sinais que acompanham a nossa missão estão descritos pelo mestre Jesus:

Expulsar demônios (v. 17a): tantos demônios habitam nossos lares, nossas famílias e nossas relações, tais como, inveja, pornografia, vaidade, competição etc. Nós podemos e devemos, impulsionados pela Palavra de Cristo, expulsar tudo isso de nossa vida.

Falar novas línguas (v. 17b): como meditamos na liturgia do domingo passado, Deus é amor. Portanto, esta é a língua com que devemos anunciar o Evangelho: sempre com amor.

Curar os doentes (v. 18): tantas doenças da alma que podemos curar com gestos simples como cuidado, carinho, abraço, presença etc. Quem vive com o coração em Deus tem também os olhos nos irmãos para curar a doença da inimizade e do orgulho.

Corações ao alto! O nosso coração está em Deus: Que o Senhor, ascendido aos Céus, provoque em nós um verdadeiro e profundo exame de consciência para que não fixemos os olhos passivamente no céu, mas que saibamos viver ativamente as alegrias e tristezas desta terra. Assim seja. Amém!

           

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista da Diocese de Jaboticabal/SP.

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