Corpus Christi | Reflexão

 

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO | Ano B

Solenidade

Ex 24,3-8 | Sl 115(116),12-13.15.16bc.17-18 (R. 13) | Hb 9,11-15 | Mc 14,12-16.22-26

 

Irmãos e irmãs, hoje celebramos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo, popularmente conhecido como Corpus Christi. Assim, antes de nossa reflexão, cabe-nos uma breve contextualização sobre esta data festiva no calendário litúrgico da Igreja. Esta festa sempre ocorre na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É um dia de preceito para a fé cristã.

A origem remonta ao século XIII: por volta de 1264, em Bolsena (Itália) aconteceu o Milagre em que um sacerdote celebrante da Santa Missa, no momento de partir a hóstia, teria visto sair dela sangue. O papa Urbano IV determinou que os objetos milagrosos fossem trazidos para Orvieto, em grande procissão, no dia 19 de junho de 1264, sendo recebidos solenemente por Sua Santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico de que se tem notícia. Além disso, teria o papa recebido o segredo da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que alegava ter tido visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. A festa de Corpus Christi foi oficialmente instituída por Urbano IV em 8 de setembro de 1264.

Na primeira leitura ouvimos a constituição da Páscoa Judaica pautada na obediência e no compromisso de repetir os ritos de um pacto feito com Deus desde a libertação do povo de Israel: era necessário oferecer animais no altar de pedra. Ao passo que, na segunda leitura o autor destaca a superioridade do sacrifício de Cristo, isto é, a sua entrega ao Pai, que se atualiza no memorial da sua paixão, é único, irrepetível e perfeito. O seu corpo entregue e sangue derramado é a aliança perfeita. Não mais a antiga, mas a Nova e Eterna Aliança. Não precisamos mais dos sacrifícios de animais no altar de pedra, porque o próprio Cristo, Cordeiro imolado se entregou no altar da cruz. E este gesto de entrega foi antecipado e perpetuado na Igreja por meio da ceia eucarística com os seus discípulos, que ouvimos no relato do Evangelho.

Desde que Jesus transferiu o seu corpo e seu sangue para as ofertas do Pão e do Vinho, ele disse também “fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). Esta memória que hoje fazemos, nesta celebração, não é figurativa. Não é um teatro. Mas é o único e mesmo sacrifício da cruz perpetuado pela liturgia da Igreja. O teólogo jesuíta Pe. J. B. Libânio dizia que na missa há duas epicleses, isto é, dois pedidos de invocação do Espírito Santo: uma sobre as ofertas do pão e do vinho e outra sobre a assembleia reunida. Ora, a primeira é fácil porque os dons do pão e vinho não colocam resistência; todavia, nós, homens e mulheres dotados de liberdade, tantas vezes impedimos a graça acontecer por causa de um coração fechado. Celebrar Corpus Christi é abrir-se à graça transformadora do mistério eucarístico.

Podemos ainda nos perguntar: “Por que o pão? Por que o vinho?”. Ora, porque são frutos da terra e da videira, mas que contam também com o trabalho humano. São símbolos que representam a vida, o esforço e o labor. A Eucaristia não pode ser vista por nós como uma mágica que resolve todos os nossos problemas. A Eucaristia é, antes, “o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia” (Santo Afonso de Ligório).

As quatro ações de Jesus, como vimos no Evangelho desta liturgia são: tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos. A nossa vida precisa ser cada vez mais eucaristizada. Isto é, precisamos tomar a vida como ela é, dar graças a Deus pelos dons, partir e transformar a vida mediante as escolhas diárias, pra somente a partir daí, doar-se aos demais, isto é, fazer da vida uma oferta de amor e doação como o próprio Cristo fez. É preciso que nos tornemos pão e vinho também para os nossos irmãos. Por isso frequentemente chamamos a Eucaristia de Comunhão: é impossível receber a Eucaristia sem antes estar em comunhão com os outros. Antes de comungar da Eucaristia, a cada missa, nós comungamos da Comunidade reunida e da Palavra anunciada.

Enfim, é preciso que assumamos este projeto de Cristo. Comungar da Eucaristia não deve ser um gesto passivo como passe de mágica: “Tornem-se o que vocês comem! Vocês comem o Corpo de Cristo, tornem-se Corpo de Cristo!” (Santo Agostinho).

Amém.

           

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista da Diocese de Jaboticabal/SP.

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