Natal do Senhor | Reflexões

 

NOITE DE NATAL | 24/12/2024

Leituras: Isaías 9,1-6 | Sl 95(96),1-2a.2b-3.11-12,13 (R. Lc 2,11) | Tito 2,11-14 | Lucas 2,1-14

Amados irmãos e irmãs, esta é uma noite feliz! Não porque os nossos problemas se acabaram, mas porque andávamos na escuridão, e agora temos uma luz que é JESUS. Ele é o Príncipe da Paz e o verdadeiro Emanuel, pois Deus está conosco. Cantamos no salmo responsorial que “Hoje nasceu para nós o Salvador”. É verdade, hoje fazemos memória de um belíssimo mistério, o da encarnação. A graça abundante de Deus se manifestou no mundo, nos trazendo salvação por meio de um menino; frágil; numa noite em Belém.

Ora, se Deus quis ser humano, então humanos é o que melhor podemos ser. A mensagem do natal quer ser para nós, homens e mulheres do século XXI, que em nosso meio não deve haver treva, escuridão, ressentimentos e opressão. A vinda de Deus em nosso meio através de um simples menino quer nos mostrar a grandiosidade que existe na simplicidade. Para nos ajudar a sermos bons seres humanos, ater-nos-emos a três aspectos do Evangelho de hoje:

“Não havia lugar para ele” (Lc 2,7): o fato de não haver um lugar para ele não impediu que o nascimento acontecesse. Assim, a primeira mensagem do natal é que não há empecilhos para a graça de Deus acontecer. “Quando Deus quer, ninguém segura”, diziam os antigos. Para além disto, trata-se de um fato triste: Deus veio ao mundo já rejeitado. Não podemos continuar essa rejeição; precisamos acolher Jesus em nossa vida para que as graças neste ano novo que se aproxima aconteçam. Se quisermos luzes em vez de trevas, não fechemos as portas da nossa vida e do nosso coração para Deus habitar.

“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11): Vejamos bem o advérbio temporal HOJE. Quem acolhe Deus na vida não tem tempo a perder. O hoje de Jesus é a urgência de salvação, de alegria, de paz. Nós não podemos mais adiar os projetos de Deus em nossa vida. Hoje é a oportunidade de fazer natal, isto é, de deixar nascer em nós atitudes verdadeiramente cristãs, como amar o próximo, ajudar os necessitados, colocar-se no lugar do outro.

“Um recém-nascido envolvido em faixas” (Lc 2,12): o menino nasce envolto em faixas, como também depois de sua morte, será envolto em faixas de linho, o sudário. A vida toda de Jesus foi envolta às faixas de nossa humanidade, de nossas fraquezas e misérias. Ele não está alheio à nossa realidade, mas caminha conosco e parte o pão para nós. Por isso, também precisamos deixar de mascarar nossas dores, assumi-las, como Cristo assumiu as faixas da nossa humanidade. Somente assim seremos, verdadeiramente, mais humanos e menos animalescos em nossas relações.

Enfim, vale um convite de Dom Tonino Bello, bispo italiano: “vamos a Belém, como os pastores. O importante é não ficar parado. E se, ao invés de um Deus glorioso, encontrarmos a fragilidade de uma criança, não nos venha a dúvida de ter errado o caminho. O rosto assustado dos oprimidos, a solidão dos infelizes, o sofrimento de todas as pessoas da terra, são o lugar onde ele continua a viver na clandestinidade. Cabe a nós a tarefa de buscá-lo. Ponhamos a caminho sem medo”.

            Assim seja. Amém!

***

DIA DE NATAL | 25/12/2-24

Leituras: Isaías 52,7-10 | Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 3cd) | Hebreus 1,1-6 | João 1, 1-18

Irmãos e irmãs, a Palavra de Deus se fez carne a habitou entre nós! Esta é a verdade de fé que celebramos hoje. De tantos modos que o Senhor já se comunicou com seu povo (segunda leitura), agora ele se auto-comunica, isto é, envia o seu próprio Filho, existente já desde antes da criação do mundo (evangelho), mas que agora toma forma humana, tornando-se carne e pisando o nosso chão. Eis o motivo de nossa alegria: “o Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém” (Is 52,9).

Isto significa o Natal que celebramos. Significa caminhar na Palavra de Deus. Mas não uma palavra distante; é uma palavra encarnada. Ora, “a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam” (L. Boff), desse modo, o nosso modo de anunciar Jesus Cristo depende do nosso modo de experimentar Jesus Cristo no cotidiano da nossa história. Se, por variados motivos, cremos em um Deus castigador, malvado e vingativo é claro que não faz sentido algum celebrar o Natal. Porém, se cremos no nascimento daquele que trouxe paz e luz ao mundo, então seremos capazes de anunciá-lo também sendo, nós mesmos, instrumentos de paz e luz no mundo... “Como são belos os pés de quem anuncia e prega a paz” (Is 52,7)!

Caminhar na Palavra de Deus é ter fé. No entanto, a fé não é um conjunto de certezas, mas sim, a capacidade de entrega-se inteiramente nas mãos de Deus, mesmo não tendo todas as respostas que queríamos ter; “a fé é a capacidade de referir a vida absolutamente a Deus” (Cardeal Martini).

“Tudo foi feito por meio dela” (Jo 1,3): A Palavra de Deus é criadora. Em Gênesis, por esta palavra, somos criados. Agora, no Evangelho, pela encarnação desta Palavra, somos recriados para uma vida nova. Portanto o Natal é tempo de recriação! Não podemos mais ser os mesmos diante de tudo aquilo que o Senhor nos oferece. Precisamos aprender a sermos hospitaleiros com esta Palavra que se faz carne para nos trazer salvação.

Afinal de contas, esta hospitalidade tem duplo sentido: um Deus que faz morada em nossa terra, mas em vistas de que nós também façamos morada em sua vida trinitária. Assim, o Natal consiste em reconhecer no grandioso fato da encarnação a oportunidade diária que temos para sermos fieis e obedientes a esta mensagem reveladora da Graça de Deus. Pensemos: Qual foi a hospitalidade daquele primeiro presépio, em Belém? Foi a hospitalidade de um estábulo. De modo análogo, o nosso coração, hoje, se encontra simples, pequeno, humilde como um estábulo, mas é onde o Senhor deseja fazer morada.

O Natal é certeza de que Deus não somente conduz a história da humanidade, mas também participa dela, caminhando ao nosso lado. Natal é vida, mesmo que seja a nossa vida: frágil, sofrida e dolorida; mas é vida que temos, ao mesmo tempo, que é uma vida renascida por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Portanto, neste Natal, espalhemos sorrisos, ofereçamos abraços, sejamos luzes, alegria e esperança para os outros, porque Cristo é luz, alegria e esperança por todos nós! Não busquemos fora o que está dentro, porque “o nosso coração tem um vazio do tamanho de Deus” (Santo Agostinho). Lembremos: Estar à disposição de um Deus que se faz próximo é reafirmar também o nosso compromisso de fazer-nos próximos aos irmãos necessitados. Este é o tempo de esvaziar-nos de nós mesmos, para preencher-nos de Deus através dos irmãos. Por isso, egoísmo e consumismo não devem existir em nossas comunidades.

Assim seja. Amém!



 

 

Comentários

Postar um comentário