8º Domingo do Tempo Comum | Reflexão

 

8º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Ano C

Eclo 27,5-8 | Sl 91(92),2-3.13-14.15-16 (R. cf. 2a) | 1Cor 15,54-58 | Lc 6,39-45

 

Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo continua apresentando para nós, no Evangelho, o chamado “sermão da planície” de Lucas. Trata-se de indicações que Jesus dá àqueles que desejam ser, verdadeiramente, seu seguidor. Nesse sentido, serve para todos nós. Ele pode ser dividido em duas partes:

Na primeira (versículos 39 a 42), o Senhor nos chama atenção para observar a quem nós seguimos. Ora, o único mediador que leva à Salvação é Jesus, por isso um cego não pode guiar outro cego (Lc 6,39). Diante da vida todos nós possuímos cegueiras, que são os pecados e as misérias humanas. Nesse sentido, não podemos nos julgar “guias” uns dos outros. O convite de Jesus com esta parábola é nos recordar que toda pessoa humana está passível de errar, e, sendo assim, é necessário viver com humildade. A hipocrisia consiste em falar do cisco no olho do outro, para esconder a trave que existe no meu. Tanto é verdade que esse termo na língua grega (υποκριτική – hipocritês) significa literalmente “aquele que põe a máscara”, ou seja, o ator do teatro grego. O Evangelho nos convida a tirar nossas máscaras e sermos pessoas íntegras com Deus, com os outros e conosco mesmos.

Fazer-nos discípulos, e não mestres, é reconhecer nossa limitação. A trave que existe em nós é justamente o empecilho para enxergar nossos erros. Esta trave pode ser o orgulho, a vaidade ou nossa dureza de coração. É preciso reconhecer, que necessitamos dar e pedir perdão; é preciso reconhecer, que não sabemos tudo e sempre podemos aprender uns com os outros; é preciso reconhecer, que “sozinho ninguém se salva” (Fratelli Tutti, n. 32).

Abre-se, adiante de nós, o tempo quaresmal. Daqui alguns dias já é quarta-feira de cinzas, e somos lembrados da conversão, isto é, da tão necessária mudança cotidiana de vida e de mentalidade. Não podemos mais nos comportar como guias e julgadores uns dos outros; somos todos irmãos e isso nos torna discípulos de um único e mesmo mediador, Jesus Cristo, afinal de contas, ele foi capaz de vencer o aguilhão da morte, que é o pecado (1Cor 15, 56). Como discípulos que somos, precisamos nos empenhar cada vez mais na obra do Senhor, certos de que nossas fadigas não são em vão, quando unidas a ele (1Cor 15,58).

Já na segunda parte (versículos 43 a 45), Jesus fala do critério para discernir se alguém está ou não vivendo de acordo com a lei de Deus. Os bons frutos são consequência de quem cultiva bons sentimentos! Ora, somente quem tem bondade, amor, justiça e misericórdia no coração é capaz de transformar o mundo em um lugar mais humano, justo, fraterno e coerente.

Eis a grande verdade, que é o centro do Evangelho de hoje: “a boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6,45). Diferentemente da pregação hipócrita dos fariseus, Jesus tem autoridade, e assim, ele prega com a vida uma nova justiça: a que vem do coração. Esta, por sua vez, é feita de sinceridade, humildade e amor. Falar menos com a boca e mais com o coração! Quem fala com o coração promove a vida, defende os mais pobres, age de misericórdia para quem erra, dá bom testemunho no mundo.

Enfim, concluindo o sermão da planície que começamos a ouvir há dois domingos, conseguimos compreender o caminho pedagógico de Jesus: primeiro as bem-aventuranças são apresentadas como uma bússola para a salvação; depois, o desafio da regra de ouro de fazer aos outros o que se deseja para si (Lc 6,31); e agora, manter a coerência de tudo o que aprendemos, ouvimos e pregamos com o que fazemos, vivemos e somos! É um programa de vida revolucionário, mas possível.

Que o Senhor nos ajude a compreende esta exigência de seu seguimento. Sejamos, hoje e sempre, pessoas mais integradas entre o que a boca fala e o que cultivamos no coração.

Assim seja. Amém!

 

Luis Gustavo da Silva Joaquim

Seminarista na Diocese de Jaboticabal/SP.

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